Entrevista concedida ao 180 -

Em 2018, ex-governador acredita no desgaste do PT a favor da oposição

Por Apoliana Oliveira

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- "Não deu pra sentir falta e saudades da atividade política"

- "A princípio não disputarei vaga para deputado federal, nem estadual. Meu nome está colocado para vaga majoritária".

- "Já fui o que gostaria de ser, que foi governar o Piauí"

- "É um governo que não faz festa do governo dele, faz do meu governo"

- "O projeto é cada um se reeleger, o governador não tira da cabeça"

- "Olhe Apoliana, o mundo está pegando fogo, se derretendo numa crise sem precedentes"

- "Acho que a possibilidade grande é do Lula ir para onde estão os tesoureiros dele"
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Em entrevista ao 180graus, o ex-governador Wilson Martins (PSB) não esconde o desejo de disputar novamente as eleições majoritárias em 2018. Ele crê no fortalecimento da oposição e no que chama de cansaço do governo Wellington Dias, e sugere que o ex-presidente Lula talvez não escape da possibilidade de prisão até as próximas eleições.

Confira a integra da entrevista, concedida na última sexta-feira (17/02).

180graus: Como tem sido os últimos anos longe da gestão pública?
Wilsão: Está uma maravilha, porque voltei para a Medicina, trabalhando com 40 médicos que são jovens, dois filhos [médicos] e uma série de outros que foram meus alunos na UFPI. Me inserindo de volta naquilo que me preparei a vida toda, que é ser médico. Estou muito feliz por isso, trabalhando diariamente de 7 da manhã até 14 horas, e isso permitiu que eu pudesse me programar e ter uma qualidade de vida muito melhor. Passar a me cuidar, ter tempo para as minhas caminhadas, academia. Ter regramento maior para alimentação, tendo tempo até para cuidar um pouquinho dos netos, experiência positiva. Essa que é a vantagem de não ser político profissional. Temos uma atividade que tivemos o cuidado de nunca deixar, só nos afastamos mesmo do exercício da Medicina do período em que fomos vice-governador, os últimos dois anos da vice-governadoria e os quatro anos de governador.

180graus: O senhor sente saudades do poder público?
Wilsão: Do poder público e gestão pública, não tenho sentido falta. Na verdade essa é uma missão, árdua. Agora, da atividade política, essa não deu tempo sentir saudade, continuo como dirigente partidário, sou secretário da executiva nacional [do PSB], estamos em participação efetiva. Nos reunimos todas as segundas-feiras no partido e é sagrado aquele horário das 18h da segunda. Ficamos lá até 21h discutindo sobre tudo. Sempre tem um tema que seja atual, como segurança pública, questão da reforma política, crise energética, corrupção, cidades, desenvolvimento, o que deve ser feito em termo de planejamento, monitoramento. Nesta segunda teremos a alegria de receber o amigo do PMDB, João Henrique. Já recebemos Robert Rios... Normalmente são 40 a 60 pessoas no auditório do partido. [...] participamos das eleições municipais e temos que ir a Brasília regularmente. Não deu pra sentir falta e saudades da atividade política.

180graus: Como está o PSB após as eleições municipais
Wilsão: Naturalmente como qualquer outro partido, quando [o PSB] teve perspectiva de poder, fui vice com perspectiva de ser governador, evidentemente que foi quando [o partido] mais cresceu, entre 2006 e 2010. Permaneceu crescendo até 2013. Chegamos a ser o maior partido do Piauí, fomos o que o PP está sendo hoje, só que o PP em menores proporções, chegamos a eleger 52 prefeitos. O partido perdeu as eleições majoritárias com seu maior líder, no caso Wilson Martins, perdendo o senado, mas elegeu o maior número de deputados federais, 30% da bancada, e mantivemos base na Alepi, com quatro [deputados], mas perdemos a Belê. Dentro desta dificuldade toda, o partido saiu consideradamente bem [nas eleições municipais]. Se não me engano 34 prefeito, 30 vices, fizemos muitas composições e o maior número de vereadores, 250 vereadores. Em tudo quando é canto estamos presente. Somos o terceiro maior partido em número de prefeitos, primeiro em vice-prefeito, maior em número de vereadores, segundo maior partido em numero de votos nominais, isso na taca da oposição em todos os níveis, e sem perspectiva imediata de poder. Prova de que o partido esta fincado no estado do Piauí.

180graus: Wilson Martins volta em 2018?
Wilsão: É possível...

180graus: Como?
Wilsão: Ninguém no estado do Piauí, tirando o [atual] governador, ninguém mais pode andar de cabeça erguida, como o ex-governador Wilson Martins. Em todo estado existe uma marca do governo, do desenvolvimento, ações que valorizaram o servidor público, onde houve uma tranquilidade, aumentos regulares [de salário], pagamento de uma tabela que nós lançamos no primeiro dia de 2011 e mantivemos até sair do governo, foi absolutamente respeitada. O governo que esta aí já puxou dez dias para o pagamento depois do que nós pagávamos, isso complica a vida do servidor. Além de ser um governo que primou pela justiça social, tranquilidade e sobretudo, sem escândalo. Isso faz com que a gente tenha essa condição ética e moral de chegar em cidades do Piauí e encontrar pessoas que são gratas, respeitam e nos consideram como grande governo, isso nos credita a participar da chapa majoritária na formatação das oposições do estado.

180graus: Vai concorrer ao senado de novo?
Wilsão: O partido vai indicar uma das vagas, não tem amarras. Pode ser qualquer uma delas, desde que seja na essência da grandeza que nós queremos para o Piauí. Também não significa que seja o Wilson Martins o candidato, há no partido muitos nomes que são importantes.

180graus: Seu nome já foi cotado como possível candidato a deputado federal, o que geraria certo confronto com Rodrigo Martins (PSB). Existe essa possibilidade?
Wilsão: Não é o que eu gostaria. Como eu já fui quase tudo no estado, povo do Piauí foi muito bom pra mim, eu agradeço por tudo e evidentemente retribuímos com muito trabalho, mas gostaria de organizar o partido e ter candidatos que eu pudesse coordenar e eu não ser candidato. Mas infelizmente a coisa não funciona assim. Quando a gente vai para pesquisa de opinião publica, aí começa, sobretudo majoritariamente, a surgir aqueles nomes que são mais sólidos. A principio não disputarei vaga para deputado federal, nem estadual. Meu nome está colocado para vaga majoritária... Mas assim, se tiver outro do partido preparado e melhor posicionado, não vou tentar me impor. Já fui o que gostaria de ser, que foi governar o Piauí.

180graus: Que estão de lados opostos, isso é claro, mas como está sua relação com o governador Wellington Dias?
Wilsão: É boa, porque, é boa quando há respeito, e nós nos respeitamos muito. Tenho apreço muito grande pelo Wellington, fomos companheiros, trabalhamos juntos, mas às vezes na política os caminhos não se cruzam, ou se cruzam e se afastam. Fizemos duas eleições juntos, com sucesso absoluto em 2006 e 2010, mas depois os nossos caminhos se distanciaram pelas circunstancias da política nacional. Eduardo Campos, mais cedo que nós, liderança com história, ele e seu avô Miguel Arraes, e ele como governador eleito e reeleito pelo Pernambuco, diagnosticou com antecedência esse desastre que foi o governo do PT, sobretudo no segundo mandato do Lula e primeiro da Dilma, onde a corrupção corroia a base do governo e a economia, afetando a governabilidade. Ele se afastou e nos afastamos juntos em 2012, houve um afastamento verticalmente, quando ele se afastou e orientou que nos afastássemos, fizemos isso. Foi natural que repercutisse no Piauí.

180graus: Quando foi a última vez que se encontraram, o senhor e o governador...?
Wilsão: A gente sempre se encontra em reuniões sociais, acho que a última vez foi no ano passado, no final do ano e novembro, ou início de dezembro. Evento público social, na casa de um amigo comum.

180graus: Nos últimos dias o senhor tem falado que o atual governo vem se apropriando de obras da sua gestão. O senhor considera isso uma deslealdade?
Wilsão. Evidentemente que inaugurei obras do governo Wellington anterior ao meu deixou, é natural. O que eu coloquei é que o governo do Wellington não tem novidade, obra nova, nenhum grande investimento no estado do Piauí. As propagandas que esta fazendo, eu enumerei, fez três ou quatro propagandas volumosas, maciçamente na comunicação... Primeira colocou propaganda sobre questão viária em Teresina, colocou a ponte do meio da Frei Serafim, ponte Wall Ferraz, Rodoanel, duplicação das BRs, prolongamento da Barão de Castelo Branco, e o viaduto da Miguel Rosa. Propaganda lindíssima, com as minhas obras, nenhuma dele, nenhuma ideia. Quando é que vale uma ideia? Isso não tem valor! As ideias que você transformar em projeto real, dinheiro e recursos obtidos pelo nosso governo [...] dinheiro que ficou depositado. R$ 369 milhões que o PT não deixou o Zé filho gastar um tostão, que pelo Governo Federal prendeu esse dinheiro no Banco do Brasil. Propaganda não é do governo dele, é do nosso governo. Em Picos, estão inaugurando quatro obras importantes, estrada de asfalto para o povoado Gameleira, reconstrução da estrada que vai para um outro povoado de Picos, varias avenidas e ruas, duplicação de ruas pontes na BR, que atrapalhava o tráfego, da mesma forma... Obras que tivemos ideias, fizemos o projeto, deixamos bem andada. 70% pronta e com dinheiro garantido na conta do Banco do Brasil, através de operações de credito. Essa colocação que eu fiz. Outra propaganda, sobre energia eólica e limpa na Serra do Araripe. Projeto que nós conseguimos trabalhar junto ao Governo Federal, ajudamos a viabilizar esses recursos para o setor privado construir belo complexo eólico que nós inauguramos. Não é obra do governador...

180graus: Então o problema não é inaugurar...
Wilsão: O problema está em ter a ideia, correr atrás, viabilizar e conseguir o dinheiro. Inaugurar é administrativo. Outra propaganda, no final do ano, governo disse que conseguiu botar 1 bilhão de reais na economia, para movimentar e tal, pagou 13º e dezembro. Conversa! A folha de pagamento por mês no estado, colocando pensionista tudo, é 390 milhões, está na mensagem do governo [...] é obrigação dele. Você pega a mensagem do governador encaminhada à Alepi, vi em 10 minutos, porque não tem nada, só coisas do nosso governo. Você torce, retorce, nada! Bota logo na contracapa que aumentou a arrecadação. Mentira. No nosso governo aumentamos a arrecadação, em 28%, em média, nos dois primeiros anos, se descontar inflação, tivemos crescimento real de 16%. Nos dois primeiros anos do Wellington cresceu 1,5%, 2% descontando inflação. Nada! Aí o governo vem, faz alarde, para comemorar o PIB do Piauí, do meu governo, PIB de 2013, que saiu agora, 5,3%, quando o nacional na época foi 0,5%. É um governo que não faz festa do governo dele, faz do meu governo. Convoca a imprensa porque o IDEB teve crescimento significativo, 2013 e 2014. De quem foi o governo? 2015. É uma coisa atrás da outra. Porque não comemorou, por exemplo, o PISA, Programa Internacional de Avaliação de Estudantes. No nosso governo, em 2 anos quando foi medido, 2012 e 2013, o Piauí saiu do 23º pra o 11º lugar. Entreguei com acima da media. Agora saiu dos anos de 2015 e 2016, do governo Wellington, voltou para 23º. Não divulga isso. Na saúde, criei o programa de cofinanciamento, decreto com regulamentação fundo a fundo, porque os prefeitos reclamavam que não tinha combustível, dinheiro para consertar ambulância [...] Está quatro meses atrasados. Recebi semana passada uma comissão de servidores da saúde, os terceirizados receberam último salário em novembro, porque fechou o Siafem [Sistema Integrado de Administração Financeira para Estados e Municípios]. E por que no meu governo ao fechava? Fechávamos em janeiro e até o dia 20 abria. Imagina o drama destes trabalhadores. Você olha para o governo Wellington Dias, e o que fez em dez anos no poder? Fez o porto? Não, mentiu! [Lula e Dilma] não mandaram dinheiro do porto, publicaram que ia mandar, investimos, e pedi que se me desse 110 milhões e colocaria o porto pra funcionar. Foram botar o dinheiro em Cuba, para roubar e fazer corrupção, dinheiro ia e voltava, era esse o interesse do PT da verdadeira quadrilha que montaram. [...] As duplicações não vão sair. Passaram dois anos para concluir o aterro das pontes. Agora querem privatizar a Agespisa. Estão vendendo a Agespisa, não vão torrar porque o Tribunal de Contas interferiu...

180graus: Firmino disse que quer romper o contrato com a Agespisa...
Wilsão: Essa é uma discussão antiga. Acho que a gestão deve ser compartilhada. Na época ofereci para botarem alguém da prefeitura numa diretoria, não quiseram...

180graus: Então o governo Wellington...?
Wilsão: Não tem efetividade. O governador está no terceiro ano de mandato. Ano impar, sem eleição. Ele deveria estar trabalhando. Está só fazendo política e loteando o governo, quer criar mais duas ou três secretarias. Já tem 14 suplentes convocados na Assembleia.

180graus: O senhor já disse que essas alianças não se sustentam na base.
Wilsão: É porque não há sentimento de ligação por ideologia, por projeto. O projeto é cada um se reeleger, o governador não tira da cabeça, só pensa na reeleição dele, não quer nem saber o que vai acontecer [...] Acabaram com o Ronda Cidadão, o Rone que era para ampliar também se acabou. [...] montamos a inteligência da PM, compramos helicóptero novo, as câmeras que botamos na cidade foram abandonadas, sucateou. Abandonaram a inteligência da PM. [...] O desenvolvimento rural, que entregamos para os técnicos, hoje tá cheio de ex-prefeito, que perde eleição e recebe de prêmio [o cargo]. [...] O governador tem tido uma sorte tremenda, recebeu dinheiro dos depósitos judiciais, lançou mão deste dinheiro, e depois vai ter dificuldade para pagar. O dinheiro da repatriação.. Se não fosse isso já teria atrasado salário. E este ano, se não tiver um milagre, ele vai atrasar.
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- Chateado com W.Dias, Ciro se reúne com líderes da oposição
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180graus: E usar deste dinheiro para pagar salário não seria um risco?
Wilsão: Mas veja, foi um depoimento público do secretário de Governo, na Assembleia, na presença do TCE, procurador de Justiça, presidente do TJ, em alto e bom som. Que tinha de aprovar a PEC da maldade ou ficava em situação de não resolver mais nada, porque tinha tirado dinheiro de investimentos para pagar salário. É um crime, com jurisprudência no Supremo. Ele vai ter de prestar contas disso. A impressão que eu tenho é que o governador não sabe mais fazer conta de aritmética. Veja bem, na mensagem [enviada à Alepi] ele diz, ‘gastamos R$ 222 milhões a mais com servidores e deixamos de gastar R$ 820 milhões em investimentos’. Como foi isso, se não deu aumento pra ninguém? É criando cargos todo dia, é vantagem, é jatinho pra lá e pra cá. [...] Agora pra acomodar aliados quer criar mais duas secretarias.

180graus: Mas a tendência é de cortes.
Wilsão: Olhe Apoliana, o mundo está pegando fogo, se derretendo numa crise sem precedentes. Todo mundo cortando despesa, fazendo ajustes, querendo economizar e o governador do Piauí querendo aumentar despesas, na contramão. Querendo criar mais secretarias, para acomodar mais secretários, loteando o governo ao invés de se preocupar com a gestão.

180graus: Quem é o melhor nome da oposição para enfrentar o governador?
Wilsão: Qualquer um da oposição, vai ganhar. O governador está cansado, desgastado, já é governador pela terceira vez, o Partido dos Trabalhadores está num processo muito grande de definhamento, se definhando. Quanto maior o nível de participação social, maior a rejeição do PT. [...] O povo quer renovação, quer mudança. Fui engolido por uma ola do auge do PT, de corrupção e dinheiro fácil, povo não tinha consciência, principalmente no Nordeste, onde a Dilma tinha 82% votos. Wellington Dias com quase 70%. Fomos puxados para baixo. Agora acho que essa ola vai ser o contrário. Qualquer nome que some, vencerá as eleições.
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- Para Wilsão, Ciro sai desmoralizado se decidir continuar com governo
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180graus: Quem hoje é oposição convicta?
Wilsão: O João Vicente Claudino, João Henrique Sousa, Deputado Robert Rios, Mão Santa, Zé Filho, Freitas Neto. O presidente estadual do PSDB Marden Menezes. PP e PSDB estão ainda balançando, mas acho que os demais que lhe citei já fazem uma zuada, um barulho e tem número de votos muito grande, temos muita coisa a contar. Acho que o PT não vai chegar inteiro, vivo, em 2018. Ele esta muito baleado, os três tesoureiro do PT estão na cadeia, o marqueteiro tá na cadeia [...] Dilma cassada, o Lula com dezenas de processos e denúncias [...] Essa delação da Odebrecht, ninguém sabe o que vai dar disso ai.

180graus: Mesmo com Lula aparecendo bem nas pesquisas?
Wilsão: Essa pesquisa reflete aquele momento em que Lula aproveitou-se de uma forma absolutamente desleal da morte da esposa para fazer um discurso, tentar envolver emocionalmente a população brasileira, sobretudo onde ele é mais forte, no Nordeste do Brasil. Acho que essa pesquisa não tem substância, e nem ela se manterá, não tem valor nenhum para daqui um ano. Acho que a possibilidade grande é do Lula ir para onde estão os tesoureiros dele, marqueteiro, ex-presidente do partido dele. Acho que é o caminho dele.

Fonte: None

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