No caso Gleydson Carvalho -

Exclusivo: promotor diz que há mais investigados na morte do radialista

Por Rômulo Rocha
Enviado a Camocim (CE)

Na entrevista concedida ao 180, o promotor de Justiça Evânio Filho revelou também que não confia no trabalho da Polícia Civil de Camocim (CE) para conduzir as investigações em torno do assassinato do radialista Gleydson Carvalho, morto a tiros na Rádio Liberdade FM em 6 de agosto de 2015.

Repassou que por isso foi instalado, em paralelo, no Ministério Público, um procedimento criminal para “aprofundar as investigações”. E que foi após esse procedimento que conseguiram chegar aos nomes de Chico Dentista e de Valdir Arruda Lopes, já presos, o que fez aumentar o rol de 7 para 9 denunciados à Justiça.

O promotor revela que as investigações continuam, que há mais suspeitos e que recentemente foi enviado pelas operadoras as informações sobre as quebras de sigilo telefônico determinadas pela Justiça. Elas ainda serão checadas.

PREFEITO SERIA UM DOS INVESTIGADOS
Em um determinado momento da entrevista, se faz o questionamento abaixo ao promotor. É válido deixar claro que o 180 ainda não tinha em mãos o depoimento do pistoleiro e que só foi conseguido com uma fonte anônima depois dessa entrevista. Daí o sentido das perguntas abaixo.

____________

180: O senhor poderia dizer ao menos mais quantas pessoas foram citadas nesse novo depoimento?
Evânio Filho: Mais uma, fora as que já estão na investigação.

180: Seria o mandante, o "cabeça" da coisa?
Evânio Filho: Não dá para especificar se é cabeça ou não, mas é um outro nome envolvido.

180: Mas que grau de participação teria ele? Uma grande participação ou uma pequena participação?
Evânio Filho: Importante, importantíssima.

_________________________

Ou seja, ao se referir ao depoimento em que James Bell foi citado pelo pistoleiro Thiago Silva (VER A ÍNTEGRA AQUI), é possível inferir que o prefeito, sendo ou não a pessoa nova citada, ele seria ao menos um dos investigados.

No depoimento de Thiago são citados, além de James Bell, Chico Dentista, Valdir Arruda Lopes – estes dois últimos já presos, e um senhor de nome “Roberto, o qual é ‘Zanoio’ e reside em Itarema”.

Ao promotor foi repassado um áudio que informa ainda a existência de uma pessoa que foi com Batista Dentista alugar a casa para os pistoleiros no distrito de Senador Sá.

Essa outra pessoa é citada nessa gravação como que sendo um senhor “velhinho”. Ele estaria no carro de Batista Dentista, segundo a fonte do 180.

Portanto, há um rol maior de pessoas a serem incluídas ou descartadas na trama.

UM NOVO ALVO
Entre outros detalhes reveladores, o promotor admitiu que o delegado Herbert Ponte e Silva pode ser um dos responsabilizados, posteriormente, pela inércia em conduzir as investigações do caso Gleydson Carvalho. Essa afirmação não foi gravada.

Seria bom o delegado ao menos prender o outro pistoleiro foragido, ou, o Batista Dentista.

Corre, Herbert, corre.

VEJA OUTROS TRECHOS DA ENTREVISTA COM O PROMOTOR DE CAMOCIM:

(...)
Evânio Filho: Na fase inicial foram oferecidas denuncias contra sete pessoas.
180: Eu tive acesso.

Evânio Filho: Só que, paralelamente, foi instaurado um procedimento aqui, na promotoria. Um procedimento de investigação criminal para aprofundar as investigações. Durante esse aprofundamento, conseguimos chegar ao nome de mais dois envolvidos. Foi feito pedido de prisão preventiva, aditamento de denúncias com relação a mais dois. Então, atualmente, existem nove denunciados.

180: Quem são os outros dois?
Evânio Filho: Francisco Pereira da Silva, mais conhecido por "Chico Dentista" e Valdir Arruda Lopes.

180: Quem são os dois foragidos?
Evânio Filho: É o João Batista Pereira da Silva, o "Batista Dentista" e o Israel [o outro pistoleiro], que eu não lembro o nome dele completo agora, que é conhecido por "Baixinho".

QUEBRAS DE SIGILO TELEFÔNICO
180: Mas tem mais gente para ser enquadrada?
Evânio Filho: Sim, a investigação como é algo sigiloso eu não posso revelar nomes. O procedimento aqui na promotoria prossegue, com mais investigações a serem feitas. Foram feitos pedidos de quebras de sigilo telefônico que começaram a chegar. A gente tem que começar a checar esse material para ver se tem mais alguém envolvido nessa trama.

180: Essa quebra de sigilo telefônico, ela é recente? Ou ainda é das primeiras investigações?
Evânio Filho: O resultado das operadoras encaminhando é relativamente recente, coisa agora do final do ano.

180: Tem quantos pedidos de quebra de sigilo que o senhor conseguiu na justiça, o senhor pode dizer?
Evânio Filho: Eu não sei a quantidade, porque alguns foram de autoridade policial e aqui foram feitos outros, não sei a quantidade exata.

180: Me falaram que houve uma divisão interna de investigação dentro da polícia. Existe isso? E uma parte estaria com o delegado Herbert e a outra com um outro delegado.
Evânio Filho: Eu desconheço. O que eu solicitei através da Procuradoria Geral de Justiça foi que fosse enviado uma equipe para auxiliar nos trabalhos. Que seria necessária uma equipe mais especializada para aprofundar as investigações, mas, nunca tive resposta oficial. Pedi um auxílio do GAECO, que já é um grupo do Ministério Público, e esse auxílio foi concedido. Tanto é que nessas duas prisões, as equipes policiais que cumpriram os mandados não foram compostas por nenhuma das pessoas daqui [de Camocim], porque em razão do que havia lá atrás, eu já não tinha mais confiança. Poderia haver algum vazamento como houve vazamento com relação ao Batista Dentista. Então, eu, através do GAECO, preferi fazer isso de forma sigilosa e o GAECO acionou esses policias para cumprir os dois mandatos. Primeiro um, depois o outro.

180: O senhor poderia dizer ao menos mais quantas pessoas foram citadas nesse novo depoimento?
Evânio Filho: Mais uma, fora as que já estão na investigação.

180: Seria o mandante, o "cabeça" da coisa?
Evânio Filho: Não dá para especificar se é cabeça ou não, mas é um outro nome envolvido.

180: Mas que grau de participação teria ele? Uma grande participação ou uma pequena participação?
Evânio Filho: Importante, importantíssima.

180: O senhor acredita que essas investigações durarão quanto tempo até o desfecho?
Evânio Filho: É muito imprevisível. Se acontecesse uma prisão dos dois fugitivos, elas acelerariam bastante. Com a prisão dos dois, com certeza abreviaria as investigações.

180: E a polícia está trabalhando no sentido da prisão dos dois?
Evânio Filho: Não percebo essa movimentação, pelo menos não é noticiado a mim: "ô, Dr., fiz essa missão". Só escuto comentários: "há, ouvi falar". Inclusive no depoimento da Regina, companheira do Thiago [um dos pistoleiros], ela havia comentado que o Thiago teria falado para ela, que o Thiago teria executado o Israel no Maranhão. E isso já foi desmentido pelo Thiago em uma conversa com o delegado.

180: Nesse depoimento com o Dr. Hebert?
Evânio Filho: Não, posteriormente. Quando ele colheu [o depoimento] com a Regina e o Thiago, que foram presos juntos, ela falou essa história e ele não falou nem confirmou. Acho que não foi perguntado a ele. Ele deve ter sido ouvido antes, ela depois. Em uma outra oportunidade, o delegado deve ter conversado com o Thiago para confirmar se houve essa execução e ele falou que não, que não houve.

______________________

Ao se falar sobre ligações do delegado de Camocim, Herbert Ponte e Silva, com o município de Martinópole - Herbert é padrinho do ex-procurador-geral do município, Ângelo Jr., e James Bell possuía uma relação muito próxima com Ângelo, a ponto de viajar, inclusive, para o Chile, para Gramado (RS), para o próprio Beach Park, no Ceará... - e indagar ao promotor se elas não eram preocupantes para as investigações, o promotor responde assim:

Evânio Filho: Sim, sim. Não à toa que abrimos o procedimento aqui para aprofundar melhor as investigações, porque não percebi as investigações fluírem com a urgência e a utilização até de algo mais especializado.

180: Então o senhor esta me dizendo que não confiava ou não confia totalmente nas investigações da Polícia Civil, que são comandadas pelo Dr. Herbert no município?
Evânio Filho: Se eu confiasse tanto, não necessariamente no Dr. Herbert, mas na investigação conduzida nesse caso, eu não teria instaurado um novo procedimento. O fato é esse.

PISTOLEIRO TAMBÉM PODE SE APRESENTAR E PLEITEAR BENEFÍCIOS
180: Se o Batista Dentista, que hoje é apontado como contratante dos pistoleiros, quiser se apresentar para o senhor, relatando quem foi realmente que encomendou a morte do Gleydson Carvalho, e mesmo ele pondo-se como a pessoa que deu praticidade a isso, ele teria alguma espécie de benefício?
Evânio Filho: A lei de combate ao crime organizado prevê, dentre os benefícios, quando envolve crime organizado, a redução da pena, regime mais favorável no início da pena, até perdão judicial [em casos de colaboração]. Tem que ver o caso concreto.

QUEM JÁ COLABOROU COM A INVESTIGAÇÃO
180: Isso valeria também para o pistoleiro foragido, se quiser se apresentar?
Evânio Filho: Todos os envolvidos podem fazer uma colaboração premiada. Agora tem que trazer elementos que acrescentem na investigação. Inclusive um dos denunciados que colaboraram foi a Gisele.

180: Quem é a Gisele?
Evânio Filho: A companheira do Israel [pistoleiro], que está foragido.

180: E por que ela vai receber benefício? Ela contribuiu de que forma?
Evânio Filho: Declinando nomes de envolvidos, inclusive na prisão do Francisco Pereira da Silva [Chico Batista, um dos apontados como financiadores]; identificando o Israel, que no início usava documento falso, esclarecendo que o nome dele era outro, e [em relação] a outros envolvidos.

AÇÃO CONTRA O DELEGADO HERBERT E COMANDANTE DA PM LOCAL
180: O senhor tem criticado a suposta inoperância da polícia em prender os dois acusados foragidos. Mas o Ministério Público não pode solicitar à polícia que aja nesse aspecto?
Evânio Filho: Eu solicitei através do procurador-geral [de Justiça]. Desde o dia 13 de agosto que foi o requerimento para o procurador-geral, o Dr. Ricardo Machado, fazer tratativas com o Secretário de Segurança Pública e o delegado-geral da Polícia Civil, para mobilizar as Polícias Militar e Civil para fazer algum cerco, prender, fazer diligências. Mas, infelizmente, até hoje nada.

180: E especificamente sobre esses dois que estão foragidos, o senhor pode fazer mais alguma coisa, cobrar um trabalho de inteligência?
Evânio Filho: Está sendo feito.

180: Da sua parte, não é?
Evânio Filho: Sim.

180: E as polícias estão colaborando?
Evânio Filho: Como falei no início, alguns acontecimentos tiraram um pouco [a confiança] ou criou alguma desconfiança da minha parte com relação a Policial Civil e a Militar na época em que houve as prisões, durante o desenrolar. Então eu já não posso contar com isso. Sendo que essas duas prisões eu acionei o GAECO [Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado] e o GAECO trouxe esses outros policiais militares para cumprir, lá de Fortaleza, da COIN [Coordenadoria de Inteligência].

180: E policiais civis participaram também?
Evânio Filho: Não. Que eu saiba da COIN.

180: Da Polícia Civil eu até entendo a desconfiança, mas da militar eu não captei algo. O que seria a sua desconfiança?
Evânio Filho: No próprio dia, logo no dia seguinte [não foram] fazer um cerco para prendê-los [em referência aos pistoleiros], porque o próprio Thiago passou 3 ou 4 dias lá, que ele confirmou, conversei com ele...

180: Em Serrota?
Evânio Filho: Na casa do Batista Dentista.

180: E a casa do Batista Dentista fica onde? Martinópole?
Evânio Filho: Remanço. É uma fazenda que fica lá próximo. Remanço já é uma localidade de Marco, que fica lá perto de Serrota.

Por conta desses acontecimentos, o promotor deixou claro que posteriormente iria acionar o delegado Herbert e o responsável pela PM no município de Camocim.

VEJA TAMBÉM:

- Delegado diz que foi surpresa ver o nome de James Bell em depoimento

- CE:Suspeito de contratar pistoleiros pensou em se entregar,diz promotor

Fonte: None

Comentários

Trabalhe Conosco