Teresina participativa -

Prefeitura realizará o Fórum Teresina Participativa, oportunidade de pensar a cidade

Soube por propaganda de rádio, que vai haver um momento de discussão aqui em Teresina, promovido pela prefeitura da cidade. É o Fórum Teresina Participativa que vai i acontecer dias 26, 27 e 28 de abril.


O Fórum tem site próprio que você pode ver aqui

Segundo a prefeitura será “um momento de reflexão, discussão e planejamento da cidade para os próximos anos. Um evento democrático para discutir a revisão e a atualização do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT), Lei N° 3.558/2006, e a elaboração do Plano Plurianual-PPA, projeto de lei que define onde serão aplicados os recursos da Prefeitura.”


Na propaganda do Rádio e no site, a prefeitura resgatou a memória do Conselheiro Saraiva. Diz ela: “em 1852, Conselheiro Saraiva planejou Teresina pujante e moderna. Os tempos mudaram e o futuro da cidade tem que ser pensado coletivamente. Então, é hora de participar! Você é personagem importante e pode sugerir o que fazer para ter uma Teresina mais próspera e sustentável.”

No site há ainda informações sobre os planos diretores de Teresina, a legislação da cidade, seus mapas e outras assuntos.

Este blogueiro já garantiu sua inscrição e vai participar do Fórum.

Mas o que me baseia em termos do pensamento de uma cidade é a elaboração da professora Erminia Maricato.

Ela é uma professora universitária, pesquisadora acadêmica, ativista política, ocupou cargos públicos na Prefeitura da Cidade de São Paulo, onde foi Secretária de Habitação e Desenvolvimento Urbano (1989-1992) e no Governo Federal, onde foi Secretária Executiva do Ministério das Cidades (2003- 2005) cuja proposta de criação se deu sob sua coordenação.

É professora aposentada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo onde defendeu mestrado, doutorado, livre docência e aprovada em concurso para professora titular.

Eis aqui pinçados de recente entrevista, parte do pensamento desta profissional:

"A política urbana é voltada para o mercado imobiliário. O programa Minha Casa Minha Vida muito contribuiu para isso.

Se você constrói fora da cidade, depois tem que levar a cidade para lá. Isso é caríssimo. Custa caro o deslocamento diário das pessoas até as fontes de trabalho e de emprego.


Temos que atuar na sociedade, nos movimentos sociais. Nós temos vivido uma absoluta morte do pensamento técnico e científico, uma valorização do senso comum

A maior parte dos trabalhadores vive segregada nos bairros periféricos ou em municípios-dormitórios. Observe-se o sacrifício diário que é imposto nos transportes coletivos. Um capítulo especial tem sido dedicado às mulheres e jovens. Um grande exército de trabalhadoras domésticas abandona seus filhos em bairros periféricos para passar o dia trabalhando e circulando com a finalidade de obter rendimentos. Os jovens vivem uma espécie de “exílio na periferia”, já que não há transporte acessível e eficiente para sair do bairro, que, muitas vezes, não tem escolas adequadas, centros esportivos e culturais. Eles não podem ir ao centro ver um show ou filme e voltar para casa após a meia-noite, pois os ônibus não circulam após esse horário.


A vida nessa “subcidade” não está imune às imposições da máquina de alienação: felicidade é consumir. A violência é um resultado absolutamente visível e previsível, potencializada por organizações criminais que ocupam o espaço na ausência do Estado ou, por outro lado, potencializada pela sua presença, por meio de uma polícia violenta que conhece raça e cor.

Meio ambiente. A forma de expansão descontrolada das metrópoles no Brasil – e elas fornecem um modelo para as demais cidades – compromete com esgotos domésticos, os rios, córregos, lagos, lagoas e praias. Os mais pobres não cabem nas cidades e, como precisam inevitavelmente de um lugar para morar, ocupam lugares não recomendáveis ou Área de Proteção de Mananciais (APM).

A luta contra o atraso é grande. Retomamos a proposta de reforma urbana iniciada em 1963 e, na luta contra a ditadura, construímos um movimento nacional forte e diverso, com participação de lideranças sociais, sindicais, ONG, pesquisadores, professores universitários, urbanistas, engenheiros, advogados, assistentes sociais, sanitaristas etc. Elegemos parlamentares, prefeitos e até senadores. Conquistamos um significativo arcabouço legal [Constituição Federal de 1988, Estatuto da Cidade, Planos Diretores Participativos, Marco Regulatório do Saneamento, Lei Federal dos Resíduos Sólidos, Lei Federal da Mobilidade Urbana] e institucional [Ministério das Cidades, Conferência Nacional das Cidades e centenas de conselhos participativos em todos os níveis de governo]. Enquanto os investimentos estavam escassos, entre os anos 1980 e 1990, vivemos um período muito criativo nos governos locais, com experiências que ficaram famosas no mundo todo, como orçamento participativo, programa CEU [Centro Educacional Unificado], urbanização de favelas etc. Estamos falando de reformas que podem conviver com relações capitalistas numa sociedade mais democrática. Quando o governo federal retomou os investimentos, as cidades foram tomadas de assalto por alguns capitais: empreiteiras de construção pesada (infraestrutura, em especial rodoviária) e incorporadores imobiliários.

O transporte coletivo, é prioridade legal em todos os planos diretores, mas, na prática é o carro e o rodoviarismo que comandam a mobilidade e os investimentos em consonância com o mercado imobiliário. Isso quer dizer que túneis, pontes, viadutos, novas avenidas, além de se prestarem para a visibilidade que o marketing eleitoral explora e render dividendos para campanha eleitoral, agregam valor às propriedades localizadas nos seus arredores.

Na escala metropolitana, precisamos avançar numa gestão compartilhada. Evitar que cada município aponte um rumo diverso, ou sem levar em consideração o outro, numa região em que a urbanização é contínua e desconhece limites institucionais. Nas metrópoles não há mais solução municipal para políticas de habitação, transporte, saneamento ambiental, drenagem, coleta e disposição final do lixo, coleta e tratamento de esgoto, captação e distribuição da água, além de saúde e educação. A Constituição de 1988 remeteu à esfera estadual a competência da definição de regiões metropolitanas e sua gestão. Mas os governadores e os legislativos estaduais não querem afrontar os municípios e suas políticas paroquiais. Esses desafios ainda se mantêm atualizados.

Não há a menor dúvida de que precisamos de uma reforma política no país. Os interesses do agronegócio e da especulação imobiliária são dominantes no Congresso Nacional e isso tem a ver com financiamento de campanha.

Penso que num determinado momento, entre 2007 e 2013, a reforma urbana ficou totalmente esquecida. Parecia a alguns que um montão de obras iria resolver os problemas do desenvolvimento do país e das cidades. Acontece que as obras não obedeceram a alguns pré-requisitos: a precedência de uma reforma fundiária/imobiliária e a obediência a um planejamento baseado nas necessidades sociais. Estamos em dívida com o transporte coletivo há décadas. Não adianta querer fazer o fetiche [urbanismo do espetáculo] do futuro trem bala, monotrilho, passando por cima de décadas de demandas atrasadas. Os lobbies atuam nas câmaras municipais, assembleias legislativas, antecâmaras de governos e partidos sem descanso. Mas acho que uma nova geração vem aí. Jovens do MPL [Movimento Passe Livre], Intervozes, Levante Popular da Juventude, MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] estão começando a construir uma unidade popular que tem muito a ver com cidade e democracia."

Fonte: None

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