Eleições 2018 -

Estado - um ambiente sequestrado pelo CAPITAL, precisa ser resgatado pelo povo

De autoria do jornalista Marcelo Rocha, o Diário do Povo, publicou hoje a matéria “Empresários buscam nome para disputar o governo do Piauí em 2018”. O trabalho ganhou destaque: a capa do Jornal é toda dedicada à matéria, assim como a página 3 – a mais nobre de qualquer periódico. Além disso, o editorial do Diário do Povo, também destaca o tema.

O material jornalistico quase que, sensacionalisticamente, pede algo novo (empresários) na política local - como se isso fosse novo. Querem algo novo mas não inovaram. Tanto no editorial como na matéria do jornal faltou criatividade. Foram buscar inspiração no Ceará, de 30 anos atrás, como se a política e a sociedade não tivessem mudado.

O modelo ideal segundo o Jornal é aquele implantado por Tasso Jereissati no vizinho estado.

É bom contextualizar um pouco o Ceará daquele tempo (coisa que faltou na matéria).

O Brasil saia de uma ditadura militar e o Ceará, muito mais que o Piauí, sofria do fenômeno do "Coronelismo".

A wikipédia define assim “Coronelismo”: "é um brasileirismo usado para definir a complexa estrutura de poder que tem início no plano municipal, exercido com hipertrofia privada – a figura do coronel – sobre o poder público – o Estado –, e tendo como caracteres secundários o mandonismo, o filhotismo (ou apadrinhamento), a fraude eleitoral e a desorganização dos serviços públicos. Como forma de poder político consiste na figura de uma liderança local - o Coronel - que define as escolhas dos eleitores em candidatos por ele indicados."

Ainda na contextualização daquele momento é preciso lembrar que Fortaleza – capital do Ceará – antes de eleger Tasso Jereissati (1986), já havia eleito Maria Luiza Fontenele (PT) como prefeita da cidade. A eleição de Tasso, logo após a de Maria Luiza contou também com apoio de quadros da esquerda. O Ceará queria dar um basta no Coronelismo.

Segundo o Diário do Povo os empresários do Piauí vem se reunindo e buscando alternativa para “substituir estes políticos cansados”. É preciso tomar cuidado com a fórmula do Diário do Povo, porque depois da primeira eleição, o "empresário" Tasso Jereissati tem sempre ocupado cargos políticos. Será que ele também está cansado? Parece que não, já que da semana passada para cá, acumula, com o cargo de Senador, o de presidente do PSDB, em substituição a Aécio Neves que o Brasil inteiro sabe porque deixou o comando dos tucanos

Alíás, aquilo que o Diário do Povo elege como panacéia para resolver os males do Piauí era muito presente nos discursos do senador mineiro substituído, às pressas, por Tasso na presidência do PSDB: quando fala de Estado , falam de “gestão”, "austeridade fiscal", "redução do custo da máquina administrativa", "gestão voltada para o resultado".

Em nenhum momento nem o Jornal, nem os empresários entrevistados, falaram em em educação, saúde, segurança, cultura, agricultura. O negócio é tratar o Estado como um "grande negócio".

Domingo fiz uma postagem (clique aqui), que tenta pensar um pouco sobre as relações do CAPITAL com a política. Esta é a situação que piauienses e brasileiros devem ter em mente nos próximos anos (eleições).

Nada contra a candidatura de um empresário a um cargo público. Mas quando candidato a prefeito, governador ou presidente ele não vai gerir uma empresa. Ele vai tratar de políticas de saúde, educação, segurança, cultura, habitação, seguridade e outras. E todas dizem respeito direto à vida de pessoas, de seres humanos, que aglomerados numa sociedade chamamos de povo.

O Piauí não precisa de um “big” gerente. O Piauí precisa (e isso ele já tem) de um representante que se preocupe com o Estado e suas finanças, mas sem esquecer jamais de sua gente.

O Estado – um ambiente criado para desenvolvar as políticas em beneficio das pessoas - foi sequestrado pelo CAPITAL e, hoje, está a serviço do mesmo. Precisamos resgatar o Estado deste sequestro.

PS: Fragmento do editorial do Diário do Povo:“...o povo não caiu no marketing da divisão de classes sociais”.

- Aí, como dizia o “filósofo” Wando: “Doeu, ai, ai, ai, doeu”

Deixando a brincadeira de lado, ofereço ao leitor do blog uma texto de Marcio Pochmann. Ele é economista, professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

O texto de Pochmann trata dos escândalos da política nacional mas que reflete bem sobre estas promiscuas relações CAPITAL / Estado. O texto foi publicado hoje no site Brasil 247

OBS: Tem atualização no final do post

Poder econômico se apossou do Estado e barrou avanços civilizatórios
Durante o período da ditadura civil-militar (1964-1985), os principais inimigos da democracia podiam ser simplificados pelos grandes capitalistas e pelo estamento dirigente estatal, ambos tementes das reformas civilizatórias prometidas no ciclo político do segundo pós-guerra (1945-1964). Por conta disso, as reformas de base apresentadas pelo governo Jango para conter o tipo de capitalismo selvagem estabelecido no Brasil foram brutalmente rompidas pelo golpe de Estado em 1964.

Ainda durante a transição para a retomada democrática, na primeira metade da década de 1980, o lançamento do programa Esperança e Mudança do PMDB resgatou o espírito reformista enquanto componente necessário para a transformação da relação transparente do Estado com o mercado e da atuação ética do estamento dirigente estatal. Mais de três décadas depois, a experiência democrática brasileira, a mais longeva de todas, se manteve distante da perspectiva de civilizar o capitalismo selvagem aqui instalado, e tampouco de estancar o patrimonialismo inserido no interior do Estado.

Sem reformas, o regime democrático se tornou funcional aos capitalistas, capazes de converter o sistema eleitoral numa espécie de negócio rentável. Enquanto os grandes capitalistas financiam privadamente o processo eleitoral, recebem em contrapartida um conjunto de benesses operado arbitrariamente pelo estamento dirigente estatal.

Dessa forma, o mercantilismo capitalista invadiu o certame eleitoral da escolha democrática da representação popular, acompanhado, em geral, de lucros extraordinários obtidos a partir do financiamento do sistema político. Do conjunto das delações recentemente tornadas públicas, percebe-se o quanto o poder do dinheiro não parece ter limites para os verdadeiros donos do Brasil.

Tudo parece estar à venda. Da compra de leis no Legislativo a pareceres e decisões no Judiciário, as aferições de fiscais e outras funções de interesse do Executivo. Mesmo as informações econômicas confidenciais são privilegiadas a poucos, o que faz o capitalismo de Estado funcionar ao reverso. Não seria mais o Estado a comandar o conjunto dos capitalistas, mas simplesmente o contrário.

Nessa mesma perspectiva, o velho estamento dirigente nas mais distintas esferas do aparelho de Estado terminaria o utilizando para o seu fim próprio. Parcela do estamento segue recebendo remunerações acima do limite constitucional, o que torna atual a velha máxima: "para os amigos tudo, os inimigos a lei".

Para resolver o descrédito que se generaliza, é necessária a realização da reforma política que democratize o voto, coíba o poder do dinheiro e facilite a formação de convergência para maioria partidária. Na sequência, o desencadeamento das eleições gerais.

Conforme experiências passadas, o Brasil cresce justamente no interior das dificuldades. São elas que forçam a adoção de soluções até então inimagináveis.

Talvez por isso os escândalos que na atualidade proliferam possam revelar não apenas a natureza viciada da relação do Estado com o mercado como também os laços do patrimonialismo ainda presente no estamento estatal dirigente. Em plena crise, a mais amarga de sua história republicana, a recuperação do elo perdido das verdadeiras reformas prometidas no ciclo democrático do segundo pós-guerra (1945 – 1964) permite conectar o momento atual com uma perspectiva de futuro diferente da democracia mercantil e do patrimonialismo do estamento estatal.

OBS: Depois de postado estes dois textos, eis que surge mais um para mostrar o comportamento do empresariado. Também é do Brasil 247. Traz como título: "Empresários confirmam esquizofrenia". Confira aqui.  

Fonte: None

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