Política nacional -

Cronologia da força do CAPITAL sobre a política e quais os desdobramentos que virão

Peço desculpas ao leitor do Blog pelo tamanho do texto, mas não dava para tratar do assunto em poucas linhas.

“O Estado é um comitê para gerir os negócios da burguesia” – Manisfesto Comunista, Karl Marx.

Diante do terremoto que estamos presenciando na cena brasileira destes dias, não podemos nos limitar em análises sobre a moralidade dos indivíduos, criticar o sistema político/eleitoral e reivindicar por sua reforma. A crise política atual tem o mérito de mostrar às claras as entranhas do capitalismo.

A seguir faço uma cronologia para mostrar a influência do CAPITAL na política brasileira.

2002 – Lula traz para ser seu vice-presidente o mega empresário José Alencar e assina e lança a Carta aos Brasileiros garantindo a manutenção da estabilidade institucional e da política econômica. Lula vence as eleições.

2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010 – Lula governa e amplia os programas de transferência de renda e a criação de novos mecanismos fundamentais de políticas sociais e de desenvolvimento econômico, como a política de valorização do salário mínimo e a elaboração de programas de investimento na infraestrutura e oferta crescente de crédito, via BNDES. A base da pirâmide ganha, mas o pico não perde. O próprio Lula dizia: “nunca na história deste país os banqueiros ganharam tanto”.

2010 – Lula lança Dilma que ganha as eleições.

2011, 2012 e 2013 – A taxa de juros cai de 12,5% para 7,25% (o valor mais baixo desde sua criação em 1986 – taxa Selic). O pico da pirâmide fica profundamente incomodado com esta redução da Selic.

2012 e 2013 – Crise no Brasil deixa de ser “marolinha” e ganha volume

2014 – Mesmo com dificuldade Dilma derrota Aécio Neves (o candidato do CAPITAL)

2014 – O candidato do CAPITAL, contesta a vitória de Dilma, seus seguidores fazem o mesmo (pelo menos os seguidores barulhentos)

2014 – Após a vitória Dilma emite um silêncio ensurdecedor.

2014 – Depois de muito tempo calada, Dilma fala e para decepção de seus eleitores anuncia Joaquim Levi como o futuro ministro da Fazenda. Ali, Dilma já começava a negociar com os setores do capital sua permanência na presidência. Nos bastidores ela recebia um claro recado: ou cede, ou vai cair.

2015 – Dilma cede. Inicia um governo fraquíssimo. Joaquim Levi toma as atitudes que o CAPITAL deseja e começam a pensar a reforma da previdência.

2015 – Dilma cada vez mais fragilizada. O CAPITAL percebe isso. Ela cede em algumas propostas, mas não cede tudo. Mas o CAPITAL quer tudo e se possível um pouquinho mais.

2015 – O CAPITAL se pergunta: é possível derrubar Dilma? Percebe que sim e inicia o processo.

2015 e 2016 – O CAPITAL financia movimentos virtuais e de rua (Revoltados On Line, MBL, etc)

2015 e 2016 – O CAPITAL á havia eleito um deputado por nome de Eduardo Cunha, já havia feito Eduardo Cunha presidente da Câmara (quanto terá custado ao CAPITAL a eleição de Cunha presidente da Câmara? Pena que a Lava Jato não queira responder a esta pergunta. O CAPITAL financia também deputados. Depois das delações da Odebrecht e da JBS precisa explicar mais?

2016 – O CAPITAL vence o jogo. Dilma é deposta.

2016 - Na presidência assume um que sabia falar bonito, Michel Temer, e, com ele, um time com figuras como Gedel Vieira Lima, Elizeu Padilha, Moreira Franco, Romero Juca e outros.

2016 – Temer “faz o serviço”. Nos bastidores tenta abafar a Lava Jato (não é Jucá?). Em público impulsiona medidas que interessam ao CAPITAL, como o limite de investimentos em saúde e educação por 20 anos.

2017 – E vem mais reforma para o CAPITAL como a terceirização e o fim da CLT. Anuncia-se para Previdência uma reforma draconiana.

2017 – O movimento popular reage e em abril faz a greve geral.

2012, 2013, 2014, 2015, 2016 e 2017 – Paralelo a tudo que vai acontecendo na administração do Brasil é promovida a maior caçada a um político, o presidente mais popular que o Brasil já teve – Luis Inácio Lula da Silva

2017 – Todas as pesquisas de opinião realizadas dão a liderança com folga a Lula

2017 – Temer perde vários de seus homens envolvidos em questões nada republicanas. Embora o juiz Moro não tome providências, mas, há denúncias contra Temer.

2017 – O CAPITAL percebe que a reforma da Previdência pode não passar.

2017 – O CAPITAL percebe que Temer pode não entregar a reforma da Previdência e outras demandas.

2017 – O CAPITAL frita Temer. Embora ainda no cargo o marido da Marcela é ex-presidente da República.

2017 – O CAPITAL quer decidir a sucessão de Temer por via indireta – aqueles congressistas citados atrás elegendo o próximo presidente do Brasil.

2017 – O povo nas ruas quer decidir a sucessão de Temer e pede eleições diretas, já!

2012, 2013, 2014, 2015, 2016 e 2017 – durante todo este período (e antes até) quando o brasileiro ligou a televisão, ouviu corrupção, corrupção, corrupção e corrupção. Hoje, o brasileiro diz: “todo político não presta, é tudo bandido”.
Mas, se um político se corrompeu é porque houve um corruptor o CAPITAL. E, se alguém quer corromper um político é porque vai ganhar mais que o dinheiro da corrupção.

A Odebrecht (CAPITAL) corrompeu muitos políticos dando eles alguns milhões de reais, mas conseguiu livrar-se de 8 bilhões de impostos graças a algumas encomendas de Medidas Provisórias.

O Conselho Administrativo de Recursos Ficais (CARF) isentou o Banco Itaú ( CAPITAL ) do pagamento de 25 bilhões de reais de Imposto de Renda e CSLL devidos por ganhos de capital no processo de fusão com o Unibanco.

A Rede Globo de Televisão (CAPITAL) é cobrada pela Receita Federal por um dívida de quase 1 bilhão de reais devidos do não pagamento de impostos. O processo sumiu da Receita Federal

2017 e 2018 – O CAPITAL tem uma pedra em seu caminho: Lula. Embora, tenha ganho muito com Lula, mas os pobres também ganharam. E este ganho do pobre precisa retornar para o CAPITAL. Portanto, Lula não pode voltar.

2017 – O CAPITAL tem seus espaços na vida administrativa brasileira e como nem tudo caminha de forma retilínea esses espaços do CAPITAL, vez por outra, se desentendem.

A seguir parte de um texto do cientista político, Antonio Lassance, publicado no site Carta Maior que explica bem o momento vivido no Brasil e a “crise” entre os representantes do CAPITAL

"Duas coalizões se digladiam pelo poder. Nenhuma delas é popular
O destino do país e da Presidência da República depende fundamentalmente do povo nas ruas, mas, neste momento, há duas coalizões principais que se digladiam na disputa pelo poder. Nenhuma delas é popular. Nenhuma cogita eleições diretas já.

Uma coalizão é a do grande acordo nacional. Essa é a coalizão comandada por Temer, que assumiu o comando do país com o afastamento de Dilma e que tem como base política o PMDB, o PSDB e o DEM, e como base jurídica o grupo do Supremo conformado por Gilmar e Alexandre de Moraes. Essa coalizão tinha como programa “estancar a sangria” dos políticos e do mercado. Estancar a sangria política seria encerrar a Lava Jato, controlar o Supremo, o Ministério Público e a Polícia Federal.

Estancar a sangria econômica seria estabilizar a economia do País e aplicar um programa de reformas que transfira renda dos trabalhadores para as empresas, por meio de duras reformas.

O sonho dessa coalizão seria implantar o parlamentarismo no país. Desmoralizada perante a opinião pública, sobretudo pela presidência de Cunha e Renan, pelas reformas da Previdência e trabalhista e pelas sucessivas denúncias de corrupção, essa coalizão esperava no mínimo preparar o terreno para a eleição de um candidato em 2018 que continuasse esse programa impopular – Alckmin ou Doria.

A outra coalizão é a da Lava Jato, que tem como agenda principal fortalecer o poder do Ministério Público, da Polícia Federal e do Judiciário sobre os destinos do País. O que quer essa coalizão? O mesmo que os políticos, guardadas as devidas proporções: poder, prestígio e dinheiro. O mote principal desse projeto é o combate à corrupção, mas o interesse fundamental desses grupos é garantir o controle sobre decisões essenciais ao país e a remuneração de suas corporações em níveis que, internacionalmente, não têm paralelo.

Ambas as coisas estão interligadas. Quanto mais poderosas essas corporações se tornam, impulsionadas pela agenda do combate à corrupção, maior a justificativa para que elas sejam muito bem remuneradas e blindadas inclusive quanto a relações promíscuas que estabelecem com o setor privado.

O caso de juízes que vendem sentenças; a prisão de um dos procuradores, descoberto por vender segredos da Lava Jato para a JBS; dos procuradores cujos parentes têm escritórios cuidando de investigados e a situação, quase inimaginável, de procuradores licenciados para advogarem para empresas denunciadas por eles mesmos demonstra o quanto o poder absoluto que o Ministério Público ambiciona abre espaço para práticas espúrias, tão corruptas quanto as que denuncia.

O mercado, comandado pelos bancos e outras grandes corporações, é sócio da maioria dos políticos. Financia suas campanhas e compra suas decisões a peso de ouro. Se alinha facilmente a qualquer grupo no poder que queira fazer política como negócio. O mercado esteve com Temer até que ele começou a falhar em entregar as reformas.

A velha mídia, cuja força hegemônica é das organizações Globo, segue a lógica do mercado, de quem faz parte. A velha mídia é composta por grandes empresas, não tão grandes quanto as que lhe financiam, e vende seus produtos (notícia e entretenimento) com base em sua audiência e na aderência à defesa dos interesses do mercado.

Para entender a lógica e o timing das revelações sobre Temer e Aécio
As revelações contra Temer e Aécio têm como propósito principal fortalecer a posição do Ministério Público e a manutenção de seu Procurador-Geral, Rodrigo Janot, no momento em que era ameaçado nas três frentes – Executivo, Legislativo e Judiciário.

Janot tem até o final deste mês para decidir se concorre ou não a um novo mandato. A votação dos procuradores deve ocorrer ao final de junho. Só faz sentido para Janot entrar na lista se for para ganhar. Para isso, precisa se manter em evidência entre os procuradores e ter força suficiente para intimidar o Congresso e o presidente da República a aceitá-lo goela abaixo.

A fratura exposta de Temer e Aécio veio, coincidentemente – se é que alguém ainda acredita em coincidências -, no dia seguinte em que o presidente revelou que não estava disposto e comprometido a indicar o primeiro da lista de procuradores para ser o chefe do Ministério Público. Ou seja, Temer insinuou que iria rifar Rodrigo Janot.

Também por coincidência, a operação contra Aécio veio uma semana depois de Janot ter trocado farpas com o ministro Gilmar Mendes. Gilmar é quem manda hoje no Supremo, e não Carmem Lúcia, que se tornou mera figura decorativa e cujo principal papel é produzir gafes e jantares.

Mais do que isso, é público e notório, e é assim entendido no Ministério Público, que Gilmar é quem dá a linha no PSDB sobre como tourear procuradores e as demais instâncias do Judiciário. Se, como dizia Jucá, Temer é Cunha; Gilmar é Aécio. Gilmar é, no STF, a figura central do “grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo”, e costurava a estratégia de recolocar o MP sob controle, como nos velhos tempos de Geraldo Brindeiro – conhecido como o engavetador-geral da República.

O PSDB, sócio principal do governo Temer e com um presidente de partido que, por baixo dos panos, costurava ativamente contra o Ministério Público, confiava em Gilmar para servir de anteparo. Esqueceram apenas de combinar o jogo com os russos, no caso, Fachin, que se indispôs com Gilmar e foi criticado por ser um juiz pouco interessado na lei e na Constituição e mais em obedecer ao MP. Fachin acabou de provar que é isso mesmo. Está lá à disposição para cumprir esse papel.

Para entender a Globo
A Globo, como ela própria confessou em editorial, era entusiasta do governo Temer por sua agenda de reformas e também, isso inconfessado, pelas generosas verbas de publicidade que Temer liberou para as mídias decadentes e que tanto precisavam de dinheiro nesse momento de crise.

A reviravolta das revelações contra Temer e a opção editorial da Globo pela renúncia ou impeachment se dá por duas razões claras. Em primeiro lugar, a Lava Jato é hoje a principal notícia do país. A Globo, desde o início, é o veículo preferencial dos vazamentos. Essas notícias rendem grande audiência e verbas que ampliam sua publicidade.

Recusar os vazamentos levaria a Globo a perder sua preciosa fonte. A entrega das informações do MP ao jornal O Globo e à emissora de tevê foi feita na ofensiva de Janot contra Temer e Aécio para derrotar esses dois adversários. Os vazamentos são inseparáveis da estratégia do Procurador-Geral, pois são por ele controlados. Para a Globo, era pegar ou largar. Ela precisava dar sustentação a Janot em sua briga ou perderia a primazia nos vazamentos.

Outro fator essencial é dado pelo mercado financeiro. A situação de Temer frustrou qualquer expectativa de que o governo consiga levar as reformas adiante. Ao contrário, já se considerava que Temer estava enfraquecido no Congresso e demonstrando grandes dificuldades na tramitação da reforma Previdenciária e mesmo em aprovar a reforma trabalhista no Senado.

Temer não interessa mais à Globo porque, no mercado, é considerado incapaz de entregar o que prometeu.

O “gran finale”: condenar Lula
Outro propósito essencial das revelações é o de fazer crer que a Lava Jato é baseada em provas, e não em convicções, e que seria isenta e apartidária, atingindo a todos indiscriminadamente, sejam eles o presidente da República ou até mesmo o senador tucano queridinho de delegados da operação – aqueles que lhes fizeram declarações de amor no Facebook – e com quem Moro trocou conversas ao pé do ouvido. Esse propósito é fundamental para o passo seguinte e mais importante da Lava Jato: condenar Lula.

A convivência pacífica costurada por Lula com o mercado, em seus dois mandatos, acabou rompida no governo Dilma, quando Unibanco, Santander, Fiesp, montadoras de automóveis, os conglomerados de comunicação e tantas outras grandes corporações passaram abertamente a atacar o PT, a financiar Cunha e a conspirar pelo impeachment.

A condenação de Lula é líquida e certa desde quando o inquérito foi remetido a Moro. Estamos há um mês para o dia D da Lava Jato, quando ocorrerá a condenação de Lula pela suposta propriedade de um triplex, apenas com base em delações.

Em seguida, o processo seguirá para a segunda instância, dessa vez colegiada, e que selará a pá de cal sobre a candidatura Lula em 2018, tirando do páreo quem é, disparado, o candidato mais popular em todas pesquisas.

A coalizão da Lava Jato já decidiu: Lula precisa ser condenado, e o será. É uma questão de honra e de autoafirmação. A única dúvida é se ele será conduzido a um presídio ou se será determinada a prisão domiciliar e a aplicação de uma tornozeleira eletrônica.

Essa segunda opção proporcionaria um ar de ponderação e isenção à Lava Jato, em vista da idade de Lula e de sua condição de ex-presidente.

O relevante para a coalilzão da Lava Jato é desmoralizá-lo e mitigar o risco de transformá-lo em vítima pelo encarceramento, cumprindo o essencial: evitar que ele dispute 2018.

Pós-Lula

Não há hoje uma coalizão democrática e popular devidamente articulada, com lideranças com suficiente protagonismo para conduzir uma solução capaz de ser institucionalizada e tornar o país mais democrático, mais justo e menos corrupto. A Lava Jato também demonstrou que não tem projeto de país e sequer é capaz de combater efetivamente as práticas corruptivas. Mesmo Cunha, preso, conforme reconhecem os procuradores, continuava atuando.

As mobilizações de rua e a articulação de movimentos populares são a única possibilidade de surgir um fermento social capaz de implodir a lógica do atual sistema político, provocar mudanças e romper com os riscos de um país tutelado por uma burocracia judicial que, se não for controlada, pode se tornar um poder autoritário e corrupto que não deixa nada a dever aos atuais partidos dominantes.

Mas as forças populares estão fracas e dispersas. Apesar do retorno das mobilizações e da unificação das lutas em torno das bandeiras do “Fora, Temer!” e “Diretas, Já!”, o fato é que não há nem coalizão popular, nem comando e nem projeto devidamente coerente, consistente e articulado.

O país precisaria não só barrar a reforma da Previdência, reverter a reforma trabalhista e a PEC dos gastos. Para rivalizar com a coalizão do “grande acordo nacional”, seria preciso um projeto capaz de reformar o atual sistema partidário e eleitoral e reconstruí-lo em novas bases, mais democráticas, mais participativas, de maior controle sobre os eleitos e renovação de seus quadros. Boa parte das lideranças sociais que despontaram na crise deveriam formar uma nova geração de políticos intimamente conectados às suas bases, superando o descolamento atual que se vê nos partidos, e com uma agenda de reformas de controle social sobre a política.

Para rivalizar com a coalizão da Lava Jato, seria importante um programa para fortalecer o Estado, “desmamar” as corporações de seus privilégios e criar instrumentos para blindar o Estado rigorosamente da promiscuidade com o setor privado. Para tanto, é preciso que surja uma maior coordenação com juízes, procuradores e policiais federais que fortaleça, sem mordaça, o propósito democrático e republicano dessas corporações.
Do contrário, o país continuará à mercê de seus predadores, sejam eles políticos, empresários, burocratas ou mídia. Como se vê, o Brasil tem sido vítima da ação perversa desses quatro cavaleiros do apocalipse. Enquanto isso persistir, o poço continuará sem fim."

PS: Não quis alterar o texto de Lassance acrescentando em determinados momentos a expressão "CAPITAL". Mas o leitor do Blog, inteligente que é, saberá quais os espaços desta palavra no referido texto.

 

Fonte: None

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