No cenário nacional -

De playboy a presidente nacional do PP e político mais influente do PI

A trajetória, sempre ascendente, do presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira, o torna o político mais influente do Piauí na atualidade, e um dos mais importantes do país, tendo trânsito livre no Palácio do Planalto e em vários gabinetes do Congresso Nacional e da Esplanada dos Ministérios.

Um dos poucos que assim pode ser apontado com tamanho prestígio na história do Piauí, estado escasso de políticos de alto escalão. O parlamentar conseguiu na última eleição não só apoiar o candidato a presidente vencedor, mas conseguiu fazer o governador – com uma vice do PP, o senador, a sua deputada federal e o seu estadual.

Mas quem viu o início da carreira política de Ciro Nogueira não se arriscaria a dizer que ainda na casa dos pouco mais de quarenta anos, ele já teria galgado espaços em âmbito estadual e nacional em proporções que poucos políticos no estado conseguiram atingir. A sua imagem, quando jovem, era atrelada à de um bon vivant. Membro de uma família abastarda, dono de boa aparência, Nogueira era tachado por muitos de playboy e baladeiro.

Ciro Nogueira se formou em Direito, pela PUC do Rio de Janeiro, e ao retornar ao Piauí havia uma decisão a tomar, um “desafio”, como ele mesmo classificou: ou seguir o ramo empresarial ou a carreira pública. Diante desse dilema, ainda muito jovem, ensaiou o primeiro passo na vida empresarial, num ramo bem diferente daquele em que se formou. Abriu uma casa de material de construção de nome CN Construções. Mas não ficou muito tempo à frente deste empreendimento.

Início na vida pública

Aos vinte e poucos anos, decidiu ingressar na vida pública com a desistência do pai Ciro Nogueira de concorrer à reeleição para o cargo de deputado federal, logo após as convenções partidárias. O nome que figurava no material de campanha e urna permaneceu o mesmo. Até o slogan não sofreu nenhuma alteração: “Ciro Nogueira, a gente conhece, a gente confia.” Foi eleito deputado federal.

Nesta primeira disputa por um cargo eletivo, admite que contou com o prestígio, o apoio e a experiência do pai deputado federal. Revelou que naquela época, sem essa ajuda não teria sido eleito. “Eu devo minha primeira eleição ao nome e à imagem dele. É lógico que eu não vou negar. Se eu não tivesse ele, eu não teria sido eleito”, reconhece. “Mas daí então, se não tiver objetivo, um ideal, só pai não basta”, pondera.

Ao sair candidato à Câmara Federal Ciro Nogueira achou por bem repassar a CN Construções a uma irmã. Neste meio tempo houve o investimento em uma concessionária Honda no Maranhão, que depois se expandiria.

A vida política de Ciro Nogueira continuava, ainda que sem muita notoriedade em âmbitos nacional e local. Jovem, deputado de primeiro mandato, o parlamentar iniciaria seus primeiros percalços com a imprensa. Um deles se tornou notório e passou até a figurar no livro “A Ética da Malandragem”, de autoria do jornalista Lúcio Vaz, responsável por uma polêmica matéria.

O jornalista registrou nos corredores da Câmara dos Deputados uma conversa onde o parlamentar pelo Piauí recebia o convite de outro deputado para prática de nepotismo cruzado. Segundo o diálogo, Ciro nomearia a esposa Iracema Portella no gabinete do deputado interlocutor, enquanto o piauiense empregaria a mulher do colega parlamentar. O que chateia Ciro Nogueira nesta história é que o jornalista não publicou que o convite não foi aceito, segundo ele. “Lúcio foi corretíssimo até aí, a divulgação da proposta, mas não houve a publicação da recusa”, lamenta.

Deputado do ‘baixo clero’

Ao longo desse tempo, Ciro Nogueira era apontado como membro do baixo clero. Em compensação, ganhava todas as eleições que disputava para o Legislativo. Ao se lançar para o Executivo, no entanto, em uma única ocasião, não conseguiu lograr êxito, ficando em terceiro lugar com somente 3,8% dos votos válidos, obtendo 11.933 votos.

A disputa era pela prefeitura de Teresina, nas eleições de 2000. Quando faltavam trinta dias para o pleito, ainda integrante do extinto PFL, Ciro substituiu o cabeça de chapa Airton Veras, que não decolava nas urnas. Nesta época, já se sabia da dificuldade do partido em conseguir eleitorado significativo na capital. A força da sigla era no interior. O resultado não deu outra. O candidato ficou atrás de Wellington Dias (PT) e do vencedor Firmino Filho (PSDB).

Após essa derrota, Ciro Nogueira seguiu e começou a desenvolver ou aperfeiçoar um traço que é marcante em sua vida parlamentar, que vem a ser a sua atuação nos bastidores. Começou, então, a mirar alvos maiores, postos mais notórios, que o pudessem fazer sair daquele grupo de parlamentares sem prestígio e influência na Casa. Em 2001, se tornou integrante da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, como Quarto-Secretário.

Voltou a enfrentar problemas com a imprensa, e dessa vez com a Justiça, por supostas negligências em relação aos apartamentos funcionais da Casa, pelos quais, como Quarto-Secretário, possuía responsabilidade. Ciro é acusado de improbidade administrativa por ceder apartamentos públicos a ex-deputados. O processo ainda hoje tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

O certo é que, nesta fase, Ciro já era um articulador, já era um político conhecido por manter a palavra empenhada. Sua secretaria era sempre muito frequentada por seus pares. Nunca entendia, porém, porque ainda era considerado pela imprensa como um deputado do baixo clero. A Quarta-Secretaria foi ocupada por Ciro Nogueira até 2004, ano em que trocou o antigo

PFL - que virou DEM - pelo PP. Em 2005, apoiou Severino Cavalcanti (PP-PE) para presidência da Câmara e logrou êxito. A surpresa venceu.

Quase ministro e a atuação no mensalão

Mas Severino Cavalcanti foi denunciado por um dono de um restaurante que operava na Câmara no caso conhecido por ‘mensalinho’. O presidente da Casa recebia propina no valor de R$ 10 mil para deixar o restaurante funcionar. Diante do escândalo, Cavalcanti renunciou em setembro daquele ano. Ciro Nogueira, que havia se elegido como segundo vice-presidente, teve durante anos seu nome atrelado ao do aliado, com quem viajava com frequência, inclusive, para o estado natal do então presidente da Câmara, Pernambuco.

Um dos episódios que marcou a trajetória política de Ciro Nogueira neste período de Severino foi a sua quase nomeação para o Ministério das Comunicações, em março de 2005, ainda no primeiro governo Lula. Tudo estava praticamente certo. Mas a falta de tato político do padrinho de Ciro Nogueira à época, que botou a faca no pescoço do então presidente Lula, exigindo logo a nomeação do indicado, jogou os planos do piauiense por água abaixo.

Em 2005, na segunda Vice-Presidência da Câmara, Ciro Nogueira acumulou a função de corregedor. Um período que o próprio senador classifica como um dos mais angustiantes de sua trajetória política. Foi a época em que estourou o ‘Mensalão’. Como corregedor, Ciro Nogueira tinha que apurar os desvios de conduta dos colegas e denunciá-los se constatasse indícios incompatíveis com o decoro parlamentar. A grande imprensa não dava trégua e era capaz de responsabilizá-lo perante a opinião pública se deixasse barato os acontecimentos que estarreceram o país e ainda o estarrecem até os tempos atuais.

Foi diante deste contexto que Ciro Nogueira teve que pedir a cassação de várias cabeças da política nacional. Entre elas, a do ex-presidente do PTB, Roberto Jefferson, e a do ex-todo poderoso ministro da Casa Civil, José Dirceu, que ao ser demitido do posto retornou para Câmara Federal. “O momento mais difícil para mim, na vida política, foi quando eu tive que pedir a cassação daquele povo todo. Alguns eram até membros do meu partido. E amigos pessoais mesmo como Pedro Henry, Pedro Corrêa e José Janene. Mas eu tive que separar as coisas e não me aproveitar [politicamente] daquilo ali. Foi uma coisa que encarei como o cumprimento da minha obrigação”, falou. Como corregedor, Ciro Nogueira também atuou no Escândalo dos Sanguessugas – a Máfia das Ambulâncias, em 2006.

No biênio 2007 a 2009, Ciro Nogueira continuou a fazer parte da Mesa Diretora da Câmara. Em sua sala, próximo ao Salão Verde e ao Plenário da Casa, o parlamentar tinha sempre à mesa diversas guloseimas. Era frequente que nos intervalos de votações ou durante negociações fosse visitado por seus pares. Muitos aproveitavam o lanche, conversavam e, assim, ia se relacionando e criando vínculos cada vez mais sólidos.

Candidaturas ousadas

O deputado ousou em 2009. Saiu candidato à Presidência da Câmara disputando a sucessão do paulista Arlindo Chinaglia, do PT, contra Aldo Rebelo, do PC do B, e Michel Temer, do PMDB. Na época, acharam que Ciro só queria mesmo negociar, não levaria a candidatura até o fim. Suas entrevistas a grandes meios de comunicação traziam uma certa maturidade, de quem conhecia os bastidores da Casa a fundo, suas necessidades e ambições perante a sociedade brasileira. Pelo menos em tese. Michel Temer, que sempre se disse “confiante”, chegou a conceder do Salão Verde uma entrevista a uma emissora de TV do Piauí, criticando seu adversário. Na época, nem deu trabalho para falar. Quando soube para qual estado era a entrevista, foi justificar seu atraso em uma reunião do partido e retornou em questão de minutos, sozinho.

Temer foi eleito com 304 votos, Ciro ficou em segundo com 106 votos e Aldo Rebelo ficou com 76 votos. Ao perder, Ciro Nogueira cumprimentou Michel Temer em plenário com um abraço, o parabenizou e o desejou sorte. Nogueira havia saído da disputa maior do que quando entrou, embora não a tenha ganhado. Era a primeira vez que Ciro ficava fora da Mesa Diretora após muito tempo. Aquele era o início do ano de 2009, 2010 se aproximava e com ele novas disputas majoritárias.

O desgaste na imagem dos então senadores Mão Santa (PSC) e Heráclito Fortes, na época do DEM - hoje PSB -, por serem senadores oposicionistas em um estado em que o então presidente Lula era e ainda é tido como um ser admirável, foi despertando em Ciro Nogueira um sentimento de que era possível ser senador, embora nas primeiras pesquisas aparecesse somente com 4% das intenções de voto frente a dois gigantes da política no estado até então.

Mas ao longo do ano de 2010, o nome de Ciro Nogueira ganhava corpo. O coro para que ele saísse candidato começava a engrossar. Não deu outra. A entrada de Ciro na disputa foi polêmica. Houve trocas de farpas com Heráclito Fortes, que apontava para o pepista e dizia que durante uma conversa, ocorrida no gabinete do então senador, houve a garantia de que o empresário não sairia candidato a uma cadeira da Câmara Alta. Ciro entrara na disputa a praticamente dez dias das convenções, apoiado e incentivado pelo empresário João Claudino, seu primeiro suplente na candidatura que se desenharia vitoriosa.

E assim se desenrolou a campanha, Ciro acusando Heráclito Fortes e Mão Santa de atrapalharem o estado por fazerem oposição a Lula e se colocando como um candidato a senador que poderia canalizar recursos de Brasília, caso fosse eleito. Esperto, colou sua imagem na do outro candidato, Wellington Dias, do PT, na busca de uma dobradinha. Foi assim que se consagrou nas urnas, aos 42 de idade, o senador mais novo do estado. Um dos acontecimentos de que mais se orgulha na sua vida pública.

Ao tratar sobre a conversa com Heráclito Fortes, hoje em dia, Ciro Nogueira afirma que houve interpretações diferentes da situação. Segundo Ciro, no momento do diálogo, ele realmente não era candidato ao Senado, mas depois a ideia da candidatura prosperou. Outro argumento utilizado é que para sair candidato ao Senado, não precisaria da autorização de Heráclito Fortes. “O que o Heráclito não entendeu é que eu não tinha compromisso nenhum com ele, nem obrigação de não ser candidato. Minha relação era de amizade e não de subserviência. Por que eu não podia ser candidato contra ele? É como ele sair candidato contra mim daqui a quatro anos. Mas isso ele não perdoa”, analisa. Para acabar com as rusgas, após as eleições entrou em jogo o irmão de Ciro Nogueira, Raimundo Neto, próximo de Heráclito Fortes. Hoje em dia, segundo Nogueira, houve o fim das “hostilidades”. “Heráclito é uma figura que eu gosto”, diz o senador.

O estrategista presidente do PP

Ciro segue e em 11 de abril de 2013, chegava ao posto máximo dentro de um partido político, tornava-se presidente nacional do PP por aclamação, em substituição ao senador Francisco Dornelles (RJ). Foi outro momento de felicidade. Aqui Ciro Nogueira já superava muita gente no estado. Somente Hugo Napoleão e Petrônio Portella haviam atingido esse patamar. Hugo sendo presidente nacional do extinto PFL e Petrônio da extinta Arena.

Quem vê os passos de Ciro Nogueira - casado com a deputada federal Iracema Portella (PP) e pai de três filhas, sendo uma enteada -, e observa como o parlamentar iniciou, pode até se surpreender ao olhar para o que ele é hoje. Mas, ao que parece, na trajetória do atual presidente do PP pesou muito uma orientação que ele recebeu quando do seu início na Câmara Federal. “Meu filho, eu vou lhe dar um conselho como se fosse para um filho meu. Você está entrando agora. Aqui não tem ninguém melhor do que você. Aqui não tem ninguém mais preparado do que você. Então, dispute tudo”, disse Paes de Andrade, ex-presidente da Câmara.

Uma das pessoas a quem o parlamentar tem como exemplo dentro do Congresso Nacional e na vida pública é o também senador Francisco Dornelles (PP-RJ), hábil articulador, que abdicou da presidência nacional do PP em nome de Ciro. O parlamentar pelo Piauí chega a dizer que depois que o pai faleceu, é Dornelles seu “grande conselheiro”, “mentor”, “ídolo”, “guru” e o “melhor senador” da Casa. Também figura como exemplo para Ciro Nogueira o piauiense Petrônio Portella.

Observador, Ciro notou que quem mora em Brasília se sobressai sobre os demais políticos, os chamados TQQ’s - Terças, Quartas e Quintas-Feiras - que vão para as sessões plenárias e logo voltam para seus estados de origem. Citou como exemplo de políticos que adotaram esse comportamento de se entregarem ao mandato morando na capital federal, Hugo Napoleão e Heráclito Fortes. “Os políticos que tiveram sucesso no Piauí e aqui em Brasília, eu não conheço nenhum que não tenha morado em Brasília”, argumenta. E tem razão. Quem quiser ir longe no que escolhe tem que estar disposto a pagar o preço. Preço que, às vezes, acaba se tornando um fardo, inclusive, para a família. “Minhas filhas cobram minha presença”, admite. Não só elas, mas os amigos, as bases políticas.

Em todo caso, é essa sensibilidade de Ciro e sua percepção dos fatos que têm feito com que o presidente do PP tenha amealhado experiência suficiente para construir cenários no qual possa se sair vitorioso. Foi o que aconteceu na recente disputa com Wilson Martins (PSB), quando também decidiu apostar em Elmano Férrer (PTB), um homem de classe média, próximo do povo. Justamente o perfil que Nogueira procurava.

“Um político tradicional não ganharia do Wilson [Martins]. Ele tem um poder financeiro gigantesco. Tinha que ser um homem com empatia com a população, um homem de classe média. Eu acho que qualquer político tradicional, eu ou o João Vicente (PTB), não sei se ganharia do Wilson Martins. Acho que para ganhar do Wilson só o Elmano mesmo”, avalia. Ao mesmo tempo em que anteviu a vitória do petebista, indicou a vice de Wellington Dias, a deputada estadual Margarete Coelho (PP). “A chapa foi perfeita”, classifica.

Em 2012, Ciro já tinha lidado com o jeito de ser do candidato Elmano Férrer durante a disputa pela prefeitura de Teresina. E quase ganhou do tucano Firmino Filho, ao apoiar politicamente aquele que ficou conhecido como “Veín Trabalhador”. Foi o articulador da chapa encabeçada pelo petebista e viu a eleição ir para o segundo turno. Por menos de 13 mil votos, pouco mais de 3% de diferença, Ciro não obteve uma vitória sobre o principal líder da capital Teresina.

Essas avaliações, além da intuição e experiência política acumulada, também são balizadas através de pesquisas qualitativas, das quais Ciro Nogueira sempre faz uso. “Eu sempre mando fazer. Eu acredito muito em pesquisa qualitativa”, revela. Poucos políticos acreditam na eficácia desse instrumento tão importante. É isso que faz do presidente do PP um homem antenado, e mesmo acumulando outras funções em sua vida pública, como a de coordenador da bancada do Piauí, ele é atento às redes sociais, um reduto que opera com maestria. Também procura se cercar das pessoas certas. Tem como orientador informal - já que não é pago - o consultor Mário Rosa, especializado em restaurar a reputação de poderosos ou auxiliá-los para não adentrarem em caminhos tortuosos na vida pública. Ciro fala com Mário Rosa com uma frequência assustadora. E o tem como vizinho em Brasília.

Alguns escândalos

Ainda assim, sempre esteve envolvido em muitas denúncias polêmicas. Nenhuma comprovada até agora. A Lista de Furnas foi uma delas. Outro dentre os momentos políticos mais angustiantes para Ciro Nogueira foi quando o seu nome apareceu nesse grupo. Uma relação de parlamentares do PSDB e do ex-PFL que teriam recebido dinheiro da estatal Furnas Centrais Elétricas, com sede no Rio de Janeiro. O esquema seria operado pelo conhecido Marcos Valério.

Outro problema recente foi o envolvimento na CPI Mista criada para investigar a atuação do empresário de jogos ilegais Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e suas ligações com agentes públicos e privados. Ciro chegou a defender um dos acusados, o empresário Fernando Cavendish – com quem dias antes tivera um encontro num restaurante francês e de quem não nega ser amigo. O senador articulou para impedir que Cavendish depusesse na CPI.

O piauiense disse, porém, que recentemente, nada foi mais difícil do que a denúncia da revista Veja, o colocando como um dos beneficiados do esquema da Petrobras. Em meio ao escândalo, Ciro apareceu em pleno horário nobre, no Jornal Nacional, dizendo que se fosse comprovado algo contra ele, renunciaria ao mandato.

“Quem conhece a história sabe que eu não tenho envolvimento algum com aquilo dali”, sustenta. Após sua aparição no principal jornalístico da Globo, com posicionamento ousado, um dos adjetivos mais usados para classificar seu comportamento foi o de “corajoso”. Ciro avalia que esses ataques são típicos de “quem está no auge, quem tem importância”.

Dívida com o Piauí

Mas Ciro Nogueira sabe que percalços à parte, ele ainda tem um compromisso de campanha com o Piauí, e diz que sente o peso da responsabilidade. Foi eleito dizendo que seria o melhor

senador do estado. Traçou 11 temas como frentes de atuação, expostos no site pessoal do parlamentar, frutos das promessas feitas durante o período eleitoral, e vem tentando viabilizá-los. Apresentou 46 projetos contemplando essas áreas. Um deles, transformado em lei em 2012, estabelece a identificação genética de criminosos condenados por crimes hediondos e violentos contra a pessoa. A proposta torna possível a criação de um banco nacional de DNA que vai estar à disposição da Justiça, tornando mais rápidas as investigações criminais.

Quando, pela segunda vez, teve a oportunidade de ser ministro, agora das Cidades, no governo Dilma Rousseff, recusou por achar que presidente de partido não pode se subordinar a um presidente da República, e por acalentar o sonho de transformar o PP no maior partido do Brasil. No entanto, a indicação da pasta é da cota dele. Ciro tem nas mãos um dos principais ministérios do país, mas não consegue canalizar recursos para o Piauí por falta de projetos, segundo ele. “Se o Piauí tivesse projeto, eu já teria liberado mais de um R$ 1 bilhão para saneamento. Mas, se eu chegar hoje para a presidente da República, eu não tenho o que pedir, porque não tem projeto”, garante.

Ciro Nogueira culpa todos os governadores passados por essa falta de visão, pela situação em que se encontra o estado, sem desenvolvimento. Na lista estão Wilson Martins, Wellington Dias, Hugo Napoleão e Mão Santa. “Mas o senhor apoiou o Wellington Dias...”. No que afirma que “sim”, sustentando que o petista seria outro político hoje em dia, mais tarimbado. “Quando o Wellington Dias foi eleito a primeira vez, ele era inexperiente. Ele não estava preparado para ser governador, no meu ponto de vista, naquela época. O PT não tinha quadros”, explica. Indagado se pensa em ser governador do Piauí um dia, Ciro meio que desconversa, diz que está no projeto de Wellington Dias, “que tem direito à reeleição”. No entanto, deixa escapar um “sim”. “Se eu tiver que sair candidato será em 2022”, projeta. Ciro Nogueira, que não é favorável à reeleição, pelo uso inevitável da máquina pública, afirmou que seu “projeto agora é o Wellington Dias dar certo”. “Eu fui adversário dele a vida toda e agora que o apoiei, estou com milhões de vezes mais expectativa”, volta a sonhar.

Tanto que até aconselhou ao governador eleito a não transformar em balcão político áreas sensíveis do governo: saúde, segurança e educação. “Não dá para se fazer política com essas três áreas. E o Wellington me prometeu que não vai colocar políticos nestes três lugares”, relatou. Ciro usou a palavra “angústia” várias vezes durante uma entrevista de 42 minutos, em seu gabinete, em Brasília, ao dizer que esses próximos quatro anos devem ser a redenção do seu mandato no Senado, para cumprir em 100% aquilo que prometeu durante o período eleitoral, e para dar ao estado aquilo que lhe foi proporcionado.

“Eu me transformei numa figura importante nacionalmente, mas eu ainda não consegui transformar isso em frutos para o meu estado. Essa é minha grande frustração até agora”, revela. Ele acha que o governador Wilson Martins (PSB) não o ajudou muito a canalizar recursos por não pensar a longo prazo – aquela questão da falta de projetos. Pensa o contrário dos administradores de Teresina, que segundo o senador, foram mais competentes neste aspecto.

O certo é que Ciro Nogueira se movimenta bem e pode retribuir ao Piauí. É politicamente quase que onipresente. Sempre parece estar no lugar certo e na hora certa. O último deles foi no discurso da vitória da presidente Dilma Rousseff (PT), transmitido por várias emissoras de

TV ao vivo. O presidente do PP teve o nome citado pela chefe do Palácio do Planalto, deferência que nem o governador eleito do Piauí, Wellington Dias, pertencente ao PT, teve. As fotos de Ciro, Dilma e Lula - sem W. Dias, que se localizou mal no palco do evento e não foi alcançado pelas lentes -, rechearam as principais páginas dos jornais do país e do mundo. Como se vê, Ciro hoje pode mesmo dizer que já chegou onde queria: “senador pelo Piauí e presidente do meu partido”. Agora é retribuir ao estado.

Fonte: None

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