Mensagens sem formalidade -

Em tempos de WhatsApp, educadores defendem ensino da Língua Portuguesa lendo e produzindo cartas

Vivemos em uma sociedade em que a comunicação ora se dá de forma rápida e eficaz, ou seja, quando queremos dizer algo a alguém que está distante, enviamos uma mensagem pelo WhatsApp, deixamos um recado no Facebook ou, se a mensagem exigir certa formalidade, escrevemos um e-mail, dentre outras formas de comunicação virtual. Entretanto, especialistas em educação defendem que precisamos de gêneros textuais mais complexos e extensos, que muito necessitam da escola para serem aprendidos — que o digam os candidatos a uma vaga na UNICAMP, uma das melhores universidades da América Latina, solicitados, no último concurso vestibular, a produzir o gênero carta cujo propósito era a reivindicação de ações consistentes para a melhoria da mobilidade urbana —, como a carta aberta, a do leitor, as de reclamação e de solicitação.

Maria Sidalina Gouveia, Supervisora Pedagógica de Língua Portuguesa do Instituto Qualidade no Ensino (IQE), explica que a carta é um gênero que apresenta estrutura composicional típica, isto é, quando falamos em escrever uma carta, facilmente nos vem à memória como esse texto deve ser estruturado. “Mas, esse gênero adaptar-se-á ao contexto e ao propósito comunicativo. No caso dos gêneros epistolares citados — que apresentam a predominância da argumentação já que sustentam, refutam e negociam tomadas de posições e podem circular tanto em jornais ou revistas, impressos ou online —, além de permitirem a expressão de posicionamento acerca dos problemas sociais, promovem a interação, por meio da escrita, mesmo que indiretamente, com o (s) autor (es) de outros textos, como notícia, reportagem, artigo de opinião, editorial, entre outros, e diretamente com figuras públicas, como diretor de escola, professor, prefeito, governador”, afirma.

Em uma sequência didática de carta de reclamação, ou seja, em uma sequência de atividades de leitura, análise e produção de cartas, a partir, por exemplo, do pedido aos alunos da produção inicial, eles experimentam suas hipóteses a respeito do gênero e descobrem as capacidades adquiridas, enquanto o professor constata o que precisa ser trabalhado nas etapas seguintes.

A supervisora do IQE lembra que essas etapas, em geral, envolvem o reconhecimento de diferentes tipos de cartas, da organização estrutural e composicional — no caso das cartas de reclamação, os alunos devem reconhecer, em sua composição, a abertura da carta: cabeçalho, vocativo e saudação; o corpo da carta: identificação do motivo da escrita, apresentação da reclamação, argumentos e conclusão; o encerramento da escrita: despedida e assinatura —, dos argumentos, dos organizadores textuais próprios dos textos argumentativos, dos diferentes posicionamentos e da importância de expressá-los.

Além dessas categorias, os alunos deverão reconhecer a disposição gráfica típica. “Trazer a argumentação para a sala de aula, no Ensino Fundamental, significa propor temas polêmicos, como a produção de cartas de reclamação destinadas à direção da escola, demonstrando descontentamento pelos assuntos merecedores de atenção. Marcuschi, professor aposentado do Departamento de Letras da Universidade Federal de Pernambuco, afirma que ‘dominar gêneros é agir politicamente’, uma vez que é por meio dos gêneros que o engajamento pessoal na sociedade se efetiva”, analisa Maria Sidalina Gouveia.

De acordo com ela, aprender a produzir uma diversidade de textos é condição para a integração na vida social e profissional. A interlocução por intermédio da língua acontece, especialmente, pela argumentação predominante nessas cartas, pois, ao emitir juízos, os alunos influenciarão comportamentos. “Daí, afirmarmos frequentemente que argumentar constitui um ato linguístico fundamental e, por isso, merece atenção redobrada da escola. Ler e escrever não são exclusivos da minoria privilegiada, pelo contrário, são capacidades ao alcance de todos, desde que lhes sejam garantidas as condições adequadas de ensino e de aprendizagem”, defende Sidalina Gouveia.

Fonte: None

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