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'É incalculável a quantia desviada', diz procurador que investiga a Conmebol

Quando os EUA começaram a prender cartolas sul-americanos acusados de corrupção, em maio do ano passado, já havia outra apuração em curso. Desde 2013 o procurador Juan Gomez, que investiga crime organizado no Uruguai, estava na cola de Eugenio Figueredo, ex-presidente da Conmebol, hoje preso em Montevidéu. Em seu depoimento, o cartola admitiu práticas criminosas e entregou dirigentes de outros países.

Nas próximas semanas, o procurador vai deixar o posto - algo que já estava previsto quando ele assumiu, em maio de 2012. Em duas conversas com o GloboEsporte.com, uma pessoalmente em seu escritório no centro de Montevidéu e outra por telefone, Gomez falou sobre a colaboração com outros países e o resultado prático de seu trabalho. A seguir, trechos da entrevista:

Em que situação está o caso agora?
Estamos trabalhando no acordo de colaboração de Eugenio Figueredo, tentando recuperar os bens para a sociedade uruguaia. E depois a investigação será continuada por minha sucessora.

O que mais surpreendeu o senhor ao longo desta investigação?
O fantástico desperdício de dinheiro e a maneira suja como conduzem o futebol. Deixa muito, muito a desejar. Isso me surpreendeu. Era dinheiro que deveria ser das associações nacionais e dos clubes.

É possível saber quanto dinheiro foi desviado?
É praticamente impossível saber quanto dinheiro circulou. Mas basta ver os valores das fianças estipuladas pela Justiça dos Estados Unidos para se dar conta do volume dinheiro que foi desviado [a fiança de Marin foi estipulada em US$ 15 milhões, por exemplo]. Aqui, num país pequeno como o nosso, estou tentando recuperar para a sociedade uruguaia aproximadamente US$ 10 milhões em bens e dinheiro.

Como está a colaboração com outros países?
Esta deveria ser uma investigação que se cumpra em todos os países. Aqui estamos fazendo um esforço, mas temos dificuldade com as pessoas que são de outros lugares e não vão se apresentar voluntariamente para a justiça uruguaia. Não esperamos que assim o façam. E há toda uma série de questões que impedem essas colaborações. Talvez a investigação das autoridades americanas tenha mais possibilidades de ser concluída, na medida que algumas pessoas saiam de seus países de origem e sejam presas. O Brasil, por exemplo, não extradita seus cidadãos...

O Brasil colabora?
Neste momento não me consta que o depoimento de Figueredo tenha chegado até aí. Sim, vamos pedir a colaboração do Brasil.

Como está a situação de Gorka Villar, acusado de chantagear clubes uruguaios?
Esta é outra parte das colaborações que estamos pedindo a outros países. Suponho que vão convocá-lo a depor no Paraguai, colocá-lo a par do que quer a justiça uruguaia. Vamos ver na prática como funcionam essas questões. Mantenho esperanças de que a cooperação dos permita avançar.

O senhor vê resultado prático do seu trabalho?
Eu me movo na realidade. Em 2013, quando os clubes apresentaram a denúncia, soubemos que a Conmebol vendiam os direitos de transmissão da Libertadores e a Sul-Americana por um valor. Assim que apresentamos a denúncia, passaram a receber mais. E agora vão receber mais ainda. [Nesta semana a Conmebol aumentou o prêmio por jogo para US$ 600 mil e abriu mão de uma taxa de 10% sobre a bilheteria]. Desde esse ponto de vista, estou satisfeito por ter impulsionado a denúncia. No primeiro momento se ameaçou com suspender os times uruguaios, falou-se até em tirar o Uruguai da Copa do Mundo [de 2014]. Passamos por muitos momentos de dificuldade neste assunto.

Há alguma relação com a investigação em curso nos EUA?
É um dos países aos quais pedimos ajuda. E também estamos enviado informações que levantamos aqui para eles. Assim como pedimos para a Suíça, que nos deu a extradição de Figueredo, e também para o Brasil, Colômbia, Paraguai.

O senhor deixa o cargo satisfeito?
Nós pedimos a extradição da Figueredo para a Suíça, mesmo sabendo que os Estados Unidos também haviam pedido. E decidiram por mandá-lo para cá, acreditaram na seriedade do nosso judiciário. Por esse tipo de coisa, posso dizer que me sinto tranquilo com o meu trabalho neste caso. E estou seguro de que quem vier no para meu lugar vai fazer a coisa certa.

Fonte: Com informações do Globoesporte.com

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