Crônicas de um Espírito Amigo -

Série "Crônicas de um Espírito Amigo": O Coração do Evangelho

13 - O Coração do Evangelho

Ao me aproximar do local onde grandes navegantes do passado, como Colombo e outros mais recentes, como Jacques Cousteau, confabulavam sobre os oceanos vencidos no mundo terreno, avistei Cabral, que há muitos anos havia deixado as suas caravelas ancoradas nos portos terrenos. Servi-me da minha ansiedade para atrair a atenção do grande navegante português, guiado pelas hostes divinas às costas do Brasil.

Logo ao se dirigir em minha direção, começamos a entabular um diálogo amistoso quanto as suas viagens, mais especificamente a que fizera ao Brasil, ainda perdido nas brumas do anonimato. A minha alegria não cabia dentro do coração. Por isso, derramava-se pelos meus sorrisos, que eram largos diante daquela oportunidade de entrevistá-lo. Era o que todo repórter gostaria de fazer se tivesse condições.

Contendo a emoção falei:

- O senhor sabe que a minha última encarnação foi no solo brasileiro?

Ele meneou a cabeça em afirmação e continuei:

- Causou-me sempre interrogações quanto aos ventos terem trazido suas caravelas à Terra de Santa Cruz, já que o seu destino era outro.

Cabral, mergulhando no seu inconsciente, que seria descoberto pelos estudos demorados de Freud, não demorou a encontrar as respostas para aplacar a minha ansiedade:

- Eu também, porque a rota era para as Índias, devido aos interesses da terra lusitana. Passamos vários meses programando a viagem para que nada pudesse desviar a expedição do seu destino, mas não sabíamos que riquezas incalculáveis encontraríamos na terra onde desembarcamos, meio desiludidos pela recepção com a qual nos deparamos; um punhado de nativos.

Olhando os navegadores em prosas inflamadas, continuou:

- As suas riquezas, somente depois a compreendemos, quando as encontramos nos veios auríferos, nos diamantes, na madeira que colhemos. Retornei outras vezes ao Brasil. As suas riquezas abriram os olhos da Coroa, que não se demorou para manter uma rota permanente, com muitas caravelas destinadas à nova terra. O Brasil sempre me encantou. Algo queria me dizer que não eram somente as riquezas que eram carregadas nos lombos dos animais e dos índios desajeitados para o trabalho duro que existiam. Outras haviam também.

Colocando uma das mãos no mento, ficou a mergulhar no que havia vivido. Muitos anos já haviam se dobrado na poeira do tempo, e pelo que presenciava, ele demorava para voltar da viagem de dentro do seu inconsciente, onde deviam ter muitas coisas importantes armazenadas.

Aproveitei-me da oportunidade, trazendo a nossa conversa para o ponto que queria e indaguei dele se ele já sabia que a terra que ele havia descoberto havia se transformado no “Coração do mundo, Pátria do Evangelho”.

Ao indagá-lo, notei que ele não esboçou nenhuma reação de espanto. Apenas disse assim:

- Ouço os comentários nas rodas por aqui. Isso respondeu-me à sensação que eu já sentia de que o Brasil não possuía somente a riqueza do ouro, dos diamantes, da madeira que era extraída, da banana, da canela. Alguma coisa muito mais importante havia e era o que o meu coração sentia e que veio a se confirmar algum tempo depois. Esse filão é inesgotável.

Era difícil conter a minha alegria por estar ouvindo o que dizia um ilustre navegante português, que abrira as portas físicas do meu querido Brasil. Grande latifundiário, portanto, do país, pois fora o primeiro a descer na terra do cruzeiro do sul. E prosseguindo indaguei-lhe:

- Que mensagem gostaria de mandar ao Brasil?

E em seguida, tentei mexer com a sua vaidade, tão comum nestes desbravadores:

- És reverenciado de ponta a ponta do país. As escolas ensinam aos alunos os teus feitos, a bravura das tuas caravelas.

Ele, calmamente ajeitando o corpo, respondeu:

- Hoje, aqui de onde nos encontramos e pelo que ouço falar daqueles que chegam aqui, o país que eu descobri ainda é um país considerado como emergente, mesmo com todas as riquezas que tem, porque elas são inesgotáveis. E com a chegada do Evangelho, os estoques das riquezas se tornaram infinitas. Por isso, procuro uma explicação para que ele não tenha ainda atingido o patamar mais alto ante os países do velho continente.

Detendo-se um pouco, enquanto enchia os seus pulmões com uma brisa que corria, continuou:

- O país foi saqueado não somente pelos portugueses, mas por toda a Europa. A ganância daquela época, como na de hoje, assim como as dificuldades, são imensas, difíceis de medir, mesmo tendo à mão um astrolábio.

Eu concordei. Sabia que o barco terreno estava encalhado. E mesmo com todos os esforços dos abnegados trabalhadores do Cristo, ainda não se tinha conseguido desencalhar de vez para rumar à moralidade esperada. E explicando-me, disse-lhe:

- Eu também me fiz várias vezes essas mesmas perguntas. Cheguei a ir buscar uma explicação nos indígenas porque, como sabemos, não são bons operários, fato esse bem conhecido de vossa excelência, mas logo mudei de opinião quando me lembrei que o Brasil foi a terra escolhida para que as escórias da sociedade europeia desembarcassem em suas terras, trazendo com eles toda a espécie de viciações.

E notei que após as últimas palavras, ele já fazia movimentos para retornar ao lugar onde estava a fim de continuar a conversa inacabada com os companheiros de aventuras.

Cabral foi, na verdade, guiado pelas hostes dos espíritos enviados por Jesus, para que fosse preparado definitivamente o solo do Brasil para que as sementes do Evangelho, mais tarde, encontrassem um campo propício para germinarem.

O momento é de transição. Não serão mais necessárias as caravelas do navegador português, nem tão pouco Jacques Cousteau, ligando os continentes. O momento é de se fazer o dever de casa para que os alunos não sejam transferidos a outras escolas inferiores à Terra. A regeneração já se avista na linha do horizonte. O alvorecer de um novo mundo não demora. Ainda há tempo. Os anjos lançam suas redes e a separação já começou. Nas “Bem-aventuranças”, Jesus falou que “Somente os mansos herdariam a terra”.

Avante, navegantes da nau da evolução! Alegrias, paz, felicidades vos aguardam. Avante! Os ventos da Boa Nova enchem as velas dos vossos corações. Avante! Os veios de felicidade e de paz vos aguardam.

13ª mensagem da série “Crônicas de um Espírito amigo”, recebidas mediunicamente por Jobrane (João Braga), do Lar Espírita Casa do Samaritano (PI).

A série é publicada aos domingos no blog espírita do portal 180graus.com.

Fonte: None

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