Adeus a um gênio -

'Só valorizam débeis mentais como Madonna'; relembre Suassuna em frases

O escritor Ariano Suassuna morreu nesta quarta-feira (23), aos 87 anos, no Recife, após sofrer um AVC hemorrágico.

Responsável por um dos maiores legados da literatura brasileira, o autor se eternizou com frases escritas em seus livros, ou ditas espontaneamente em entrevistas e palestras.

Relembre algumas de suas passagens mais memoráveis:

"Há duas raças de gente com as quais simpatizo: mentiroso e doido, porque eles são primos legítimos dos escritores", no livro "Ariano Suassuna, um Perfil Biográfico" (Editora Zahar).

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"Nunca olhei a internet. A velocidade da comunicação não é coisa boa. Arte exige vagar e dedicação exclusiva. Infelizmente, no território da arte, não existe democracia. Nem pode existir. Cervantes só existe um. Ninguém chega a ele através do computador", em entrevista à Folha em 2012.

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"Se Portugal e Espanha fossem ali em Alagoas, eu iria. Mas são muito longe", em entrevista à Folha em 2003 (o escritor não gostava de viajar de avião e nunca saiu do Brasil).

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"Sempre me vêm com estatísticas, tentando provar que viajar de carro é mais perigoso, que as estradas são cheias de buracos. E eu respondo: 'Pior é no avião, que o buraco acompanha a gente o tempo inteiro'", no livro Ariano Suassuna, um Perfil Biográfico" (Editora Zahar)

"A alma humana divide-se no hemisfério rei e no hemisfério palhaço. O que há de trágico é ligado ao primeiro, e o que há de cômico, ao segundo. O hemisfério rei se complementa com o hemisfério profeta. O hemisfério poeta, com o palhaço. No meu entender o ser humano tem duas saídas para enfrentar o trágico da existência: o sonho e o riso", em entrevista à Folha em 2005.

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"Eu tenho dentro de mim um cangaceiro manso, um palhaço frustrado, um frade sem burel, um mentiroso, um professor, um cantador sem repente e um profeta", em entrevista aos Cadernos de Literatura Brasileira, do Instituto Moreira Salles, em 2000.

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"Estendo meu horror ao terrorismo aos atos praticados pelos americanos. O pior terrorismo é o de Estado. As pessoas que derrubaram as torres de Nova York: é um ato reprovável, mas são corajosos. Enfrentaram e morreram. O terrorismo de Estado é ao abrigo de qualquer risco.", em entrevista à Folha em 2003.

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"Um marco de minha vida foi a leitura de uma frase d'Os Irmãos Karamazov': 'Se Deus não existe, tudo é permitido'. Sartre tirou essa dúvida, porque a frase é duvidosa. Ele disse: 'Deus não existe, portanto tudo é permitido'. Eu tirei a conclusão contrária, eu digo que nem tudo é permitido e portanto Deus existe. Ou a norma moral tem um fundamento absoluto, ou ficaria ao sabor da opinião individual de todo mundo, inclusive de estupradores e assassinos", em entrevista à Folha em 2012.

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"Posso dizer que, como escritor, eu sou, de certa forma, aquele mesmo menino que, perdendo o pai assassinado no dia 9 de outubro de 1930, passou o resto da vida tentando protestar contra sua morte através do que faço e do que escrevo (...)", no discurso de posse como imortal da Academia Brasileira de Letras, em 1990.

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"A meu ver, o arraial de Canudos —antecedido pelo de Palmares e sucedido pelo do Contestado— é o episódio mais significativo da nossa história. Na verdade, foi ali que o Brasil real pela primeira vez expressou seu sonho religioso e político, formulando uma teoria do poder posta em prática sem imposições ou deformações que lhe viessem de cima ou de fora", em coluna na Folha em 1999.

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"Lady Gaga tem mais sucesso hoje, mas será que vai ser lembrada daqui a cinco séculos? 'Os Sertões' será", em aula-espetáculo em São Paulo em 2012.

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"Eu não mereço a menor confiança em citações. Quando a frase não me serve, eu modifico.", durante palestra na Fliporto, em Olinda, em 2012.

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"No Nordeste, a gente chama a morte de Caetana. Eu não gosto dela não. Eu me recuso a morrer. Toda morte tem um componente de suicídio, e eu não me rendo", em entrevista à revista "Época", em 2007, quando completou 80 anos.

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"Na minha visão, a literatura –e a arte de modo geral– é uma forma precária, mas ainda assim poderosa de afirmar a imortalidade. Também na minha visão, o homem não nasceu para a morte, nasceu para a vida e para a imortalidade", em entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto na "Globo News".

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"Eu daria a Michael Jackson [o título de representante número um do lixo cultural]. Mas eu já estou com pena dele, porque os americanos inventam um mito assim falso como ele e depois destroem. E já está destruído", na mesma entrevista à "Globo News".

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"Antigamente, para conquistar e subordinar um país, os Estados Unidos mandavam exércitos. Hoje, mandam Michael Jackson e Madonna. É incrível como as pessoas valorizam esses débeis mentais e deixam esquecidos artistas de talento que existem aqui", em palestra no Teatro Tuca, em São Paulo, em fevereiro de 2004.

Fonte: None

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