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Elenco do novo Quarteto Fantástico aponta um filme fora da caixinha

A Variety saiu na frente e anunciou o elenco do reboot de Quarteto Fantástico, que o diretor Josh Trank (Poder Sem Limites) coloca nos cinemas em 19 de junho de 2015. Michael B. Jordan (Fruitvale Station) já estava ligado ao projeto há tempos e foi confirmado como Johnny Storm, o Tocha Humana. Assim como Miles Teller (Finalmente 18!, o ainda inédito Divergente) havia sido mencionado como possibilidade para ser Reed Richards, o Sr. Fantástico. As novidades são Kate Mara (American Horror Story), que assume o papel de Susan Storm, a Mulher Invisível; e Jamie Bell (King Kong, Jumper), que dará vida a Ben Grimm, o Coisa. Equipe na mesa, fica a pergunta: o que diabos Trank quer dizer com o seu Quarteto?

Uma coisa é certa: este não é o Quarteto Fantástico de seu pai. Na boa, não é nem o Quarteto Fantástico de seu sobrinho de 10 anos de idade. E a balança pode pender para os dois lados.

Quando Stan Lee e Jack Kyrby criaram o Quarteto Fantástico em 1961, dando origem ao universo Marvel dos quadrinhos, eles foram apresentados não como super-heróis, mas como aventureiros, como exploradores espaciais. Desde então, as melhores histórias dos personagens abordaram menos o “vilão do mês” e mais a ficção científica. Sendo Susan e Johnny irmãos, e ela depois casando com Reed Rechards, o Quarteto Fantástico também passou a ser a saga de uma família – pais, filhos, tios, avós… tudo sendo jogado numa mistura dinâmica e inédita, que garantiu o lugar da equipe entre as grandes criações dos quadrinhos da história.

A visão de Josh Trank é, portanto, um mistério. A escolha de Michael B. Jordan, ator talentosíssimo, abre as portas para uma polêmica que é também um retrocesso: ao contrário do Johnny Storm dos quadrinhos, loiro de olhos azuis, Jordan é negro. Kate Mara, que interpreta Susan, é caucasiana. “Quando estes personagens foram criados não havia muita diversidade, eram outros tempos”, apontou Jordan em uma entrevista recente. O bacana dos quadrinhos atuais é que eles refletem mais o mundo como ele é, e neste contexto seria natural Johnny ser etnicamente diverso. Como Trank vai abordar a questão é outra história – basta ele dizer que um dos dois irmãos é adotado e, honestamente, problema resolvido.

Mas isso é especulação, já que o plot deste novo Quarteto Fantástico ainda é segredo. O produtor e roteirista Simon Kinberg foi trazido pela Fox para dar um polimento ao roteiro no fim do ano passado – justamente o motivo de os testes para o elenco terem se estendido tanto. O que nos leva à segunda questão: Jamie Bell não se encaixa no “perfil” do casca grossa Ben Grimm, que vai se tornar o monstruoso Coisa. Ele não é o típico “atleta” que entrou na faculdade com uma bolsa de esportes, o contraponto do mais cerebral Reed, que se encaixa no estereótipo trazido por Miles Teller. Se Trank estiver mirando na ficção científica com seu filme, suas escolhas para o elenco podem ser um ótimo ponto de partida. O texto da Variety, por sinal, explicita que a aventura é baseada na série Ultimate Fantastic Four, uma releitura do século 21 que desvia em diversos pontos da equipe de Lee e Kirby. Os personagens são todos muito mais jovens. As ameaças, muito mais bizarras e modernas. Tudo pode mudar do conceito original. O que importa é a narrativa: o resto é perfumaria, certo?

Errr… não deixa de ser um risco – nem que seja pelo gritos dos descontentes. Fãs, afinal, são criaturas estranhas. Quando qualquer série migra de uma mídia para outra ou ganha uma releitura, é como se o fogo do Hades tomasse seu hálito, já que fãs detestam de antemão toda e qualquer mudança que “seus” personagens experimentam. Mas os lançadores de teia orgânicos não fizeram com que os três Homem-Aranha de Sam Raimi fossem menos espetaculares (bom, talvez o terceiro filme). Hugh Jackman ter quase dois metros de altura não impediu que seu Wolverine (baixinho nas HQs) se tornasse icônico. Até a recente mudança da armadura do RoboCop no filme de José Padilha enfrentou a fúria (completamente infundada) dos fãs. A verdade é que filmes como Quarteto Fantástico (ou X-Men, ou Homem-Aranha, ou O Senhor dos Anéis, ou Batman Vs. Superman) podem até parecer que são projetados para agradar aos fãs, mas NÃO são! Quando um personagem chega ao cinema, seu público é imediatamente ampliado, ganha variedade. O sucesso de um filme de gênero depende de mil fatores – agradar todo e qualquer fã definitivamente não é um deles. Ou será que Os Vingadores, terceira maior bilheteria da história, tem tantos leitores assim?

E mais! Apesar das diferenças do material original, os dois Quarteto Fantástico do cinema, que Tim Story dirigiu em 2005 e 2007, são razoavelmente fiéis, mas nunca deixam de ser filmes infantis, sem profundidade, que agradam à petizada mas não trazem nenhum molho para uma fatia mais considerável do público. E o elenco é o retrato dos personagens nos gibis (bom, nem tanto Jessica Alba, deslocada como uma Sue Storm loira de olhos azuis), com Chris Evans perfeito como o Tocha Humana, Ioan Gruffudd conferindo seriedade ao Sr. Fantástico e Michael Chiklis humanizando o Coisa embaixo de uma tonelada de maquiagem. O que Jamie Bell não deve encarar: seu Coisa deve ser realizado com tecnologia de captura de movimento – assim como o Hulk de Mark Ruffalo em Os Vingadores, assim como o próprio Bell já fez quando deu vida à versão de Steven Spielberg para TinTin.

Nas próximas semanas Josh Trank deve escolher o resto de seu elenco, dando uma idéia da ameaça que este Quarteto Fantástico deve enfrentar. Se ele está certo ou errado em suas escolhas, a gente só vai saber em 2015. Mas o diretor merece todo mérito por pensar fora da caixinha, algo que precisa de big cojones no cinemão livre de riscos que domina o mercado.

Fonte: Com informações do UOL

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