'É infalível, tem tudo ali' -

Aguinaldo critica novelas realistas: nossa tarefa é fazer o público sonhar

Autor da novela vencedora do Emmy Internacional na última segunda-feira (23), Aguinaldo Silva falou sobre o prêmio e sua carreira em uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.

Este é o segundo troféu que levanta do Emmy, sendo o primeiro por ter supervisionado a trama portuguesa "Laços de Sangue". Questionado sobre qual prêmio mais o marcou, Aguinaldo responde fácil: "O de 'Império'. Das novelas que escrevi, foi a mais bem escrita. Na minha idade, 72, a gente começa a ligar o automático. Ali percebi que não podia fazer isso. Essa premiação mostra algo óbvio, mas não muito bem visto: o novelista tem que se matar, se quiser fazer uma boa novela. Não basta fazer o rotineiro, tem que ir além".

Para 'sair do automático', explica: "Tem que perder totalmente o pudor. Há uma tendência nas novelas, que não existe nas séries, de buscar o politicamente correto. E não há nada mais venenoso, mais destruidor para o melodrama, que o politicamente correto. No final de 'Império', o protagonista adorado, o comendador (Alexandre Nero), morre. É no último capítulo que as novelas atuais premiam o protagonista. Isso é uma ousadia que se vê em 'Breaking Bad', não em novelas".

Aguinaldo Silva acredita que o público não quer mais novelas realistas. "Fui o primeiro a colocar uma favela como cenário principal em 'Duas Caras' (2007). De lá para cá foram tantas as favelas protagonizando novelas, que as pessoas começaram a ficar cansadas. Brinco que minha próxima novela só terá rico, vai se passar toda nos Jardins em SP [risos]. Porque ninguém aguenta mais favela. Essa coisa de vamos mostrar a vida como ela é, é para o jornalismo. A tarefa da novela é fazer o público sonhar".

E elogia "Os Dez Mandamentos", grande sucesso da Record: "é uma das maiores histórias de todos os tempos. É infalível, tem tudo ali. Tanto que fizeram vários filmes". Ele diz gostar dessa concorrência, "porque sou profissional da novela. Inclusive faz com que caprichemos mais".

Ainda na entrevista, o novelista fala que novelas não deverão dar mais que 40 pontos de audiência: "Acho que nunca mais. A recordista deste milênio é 'Senhora do Destino' (2005), que teve média de 50,4 pontos no Ibope em SP. 'Império', que fez um sucesso, deu 33,7 pontos de média. É uma diferença brutal. Não significa que as novelas estejam em decadência. Mas o modo de ver televisão mudou muito. Hoje em dia tem uma gama de escolha, tem a Netflix, que veio para ficar. A audiência está muito fracionada. Não existe mais aquela audiência que as novelas davam antigamente, mas a novela continua sendo a maior audiência da TV. Nada ameaça a novela. A tendência é ainda ser o principal produto da TV".

Finalizando, brinca sobre a possibilidade de pedir um aumento de salário para a Globo, após ganhar o Emmy: "Poderia pedir, mas eles não dariam. Nem vou perder tempo. Tenho contrato até 2020, um belo contrato. O Emmy em si já é um aumento".

Fonte: Com informações do NaTelinha

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