'Top drag' Chandelly Kidman -

Longe do pai, transformista dispara: 'Vou aparecer de drag na casa dele'

Chandelly Kidman é uma das drag queens mais talentosas de Teresina. A artista inclusive já foi eleita Top Drag Brasil no concurso Nacional 'Brazilian Drag' em São Paulo, da boate Blue House. Conhecida por suas performances que trazem uma drag sexual e com muita flexilidade, ela se tornou uma referencia no cenário LGBT da capital.

Em uma entrevista intimista e reveladora ao 180 ela abre seu coração e nos revela seus segredos e experiencias de uma artista que luta em nome da cultura.

Filho de pais separados Dackson Mikael é o grande responsável que dá vida a Chandelly Kidman. Quem vê Dackson Mikael na rua em seus tranquilos passatempos diários não imagina que ele se transforma na incrível Chandelly Kidman.

180: De onde venho à ideia para o nome Chandelly Kidman?

Na verdade eu queria transformar meu nome em um nome feminino, a principio era pra ser Dackla Vulcano, pela origem de quem me criou que foi a Lola Vulcano, mas conversando com o responsável que me monta ele achou melhor Chandelly, pois é um nome mais doce e fácil de chegar nas pessoas, e também por uma brincadeira que fazemos, me comparado com uma sobremesa da Nestlé. E Kidman por causa da Nicole Kidman por que sou fã dela.

180: E qual foi a maior dificuldade de ser aceito como Drag Queen?

Eu não tive tantos problemas, por que não morava mais com minha família, morava com meu namorado e em questão de aceitação tive problemas pelas pessoas não entenderem o que é realmente assumir esse papel de Drag e o que se trata. Por que as pessoas confundem muito Drag Queen com Travesti, Transexual e as pessoas acabam fazendo uma confusão a respeito desse consenso. Eles me falavam: “Nossa tu está fazendo isso agora? vai virar mulher agora?”, e sempre explica que não era bem assim, pois é uma criação de um personagem que eu me monto, me maquio e me produzo para determinadas festas e lugares. Então o preconceito foi pela falta de ciência do que é Drag Queen.

180: E sua família, como eles veem a Chandelly?

Bem, minha família também teve esse tipo de preconceito no começo, mas na verdade sou filho de duas mães que é a minha mãe biológica e a minha vó que me criou. As duas souberam por que ano passado me tornei uma pessoa mais publica e deixei bem claro para elas o trabalho que faço, e é totalmente profissional e não tem nada a ver com drogas ou prostituição, pois as pessoas associam muito isso. E quando vieram as várias conquistas, elas começaram a me apoiar e me ajudar. A minha mãe acha linda a Chandelly e minha vó uma vez pediu para me vestir uma roupa pra ver como eu ficava de Chandelly... ela me ajudou a fecha o zíper, foi lindo aquilo.

180: E seu pai? O que ele fala da Chandelly?

Fui filho único durante 15 anos, e filho de duas mães. Meus pais se conheceram no carnaval e nessa aventura eu nasci.. E meu pai não me assumiu, desde meu nascimento, e com 15 anos que ele me registrou como filho no papel para pagar pensão e essas coisas, mas não tenho contato com meu pai. Minha mãe era muito jovem e trabalhava muito e minha vó quem me criava, e é essa a relação que tenho de família. Meu pai é uma figura bem distante.

180: Mas você tem contato com seu pai?

Tenho contato com ele, mas ele não sabe da minha trajetória e o que faço. Ele não se mostra interessando nisso e eu sou muito menos interessada em mostrar. Mas já pensei em várias vezes chega na casa dele no dia dos pais e desejar ‘Feliz Dia dos Pais’ montada de Chandelly.

180: Então vamos lá? Você me falou que a Chandelly Kidman é um personagem, mas o Dackson Mikael é gay?

Então eu sou gay e descobri isso desde quando eu me entendo por gente, não é algo que eu virei ou descobri ou que me impuseram, já veio comigo. E desde pequeno sempre gostei de figuras femininas, sempre gostei de dançar e sempre gostei muito de me exibir. Meu primeiro contato com a arte foi com 3 anos de idade, através do teatro. Depois fui pra dança, me profissionalizei como bailarino e fiz várias amizades no mundo da dança. Com o passar do tempo descobri que uns amigos meus tinham um grupo chamado ‘Five Queen’ e eles sempre saiam pra festas e eventos. Certo dia eles me falaram que iam fazer um show à noite e falei: “pois eu devia ir com vocês”, e eles falaram: “seria ótimo, mas tem que ir montado”, tomei aquele susto e falei: “ir como vocês, mas não tenho nada e não sei como é”, e eles falaram que era só escolher uma roupa no quarto uma peruca e um salto”, então tudo bem. Então eu pensei: “Ah tudo bem, vou pra me divertir e eles são muitos respeitados, então vou me jogar sem nenhuma preocupação e nem querer ser melhor que ninguém”. E foi depois desse dia que comecei a me motar.

180: E de onde venho a ideia de participar do concurso Top Drag Piauí?

Nós brasileiros carregamos uma coisa respeitar os artista pelos títulos ou pela classe social que ela tem. No começo tive muita dificuldade, pois quando chegava às casas de shows me perguntavam o que eu era mesmo, e falava que era uma Drag Queen que estava começado agora e queria me apresentar para as pessoas, por que eu tenho um trabalho com a personalidade da drag com a dança e queria apresentar isso. E sempre me falavam que não seria legal por que não tinha nenhum titulo, e ninguém te conhece. Então nasceu em mim a vontade de agregar títulos para as pessoas me conhecerem de fato e verem meu trabalho.

180: Qual foi seu primeiro concurso?

Meu primeiro concurso foi o Pantera Gay que foi na antiga Mercearia, era com base em uma música e a pessoa criava a performance dela na hora e foi ali que eu tive meu primeiro titulo. Logo depois venho o top drag Piauí que é um evento já reconhecido por aqui, quem está na frente desse projeto é a Lilika Network e tive uma visibilidade maior ainda participando desse concurso. Esse titulo é bastante cobiçando e as pessoas dão maior valor quando a drag ganha. Participei em 2012 e fiquei em 4º, mas pra mim foi normal por que era minha primeira participação. Em 2013 participei novamente, dessa vez com outra proposta. Estudei cada passo, cada objeto em cena e tudo isso faço em conjunto com o Adriano nunca faço sozinho, por que é difícil fazer isso sozinho. E fomos estudados e assistindo varias performances de drags no mundo a fora, pois esse trabalho já existe no mundo das drags e queria trazer algo pra Chandelly e foi isso que levei para o palco e ganhei o titulo.

180: E através desse titulo você foi representar o Piauí em São Paulo, em um concurso na boate Blue Space o Brazilian Drag 2014...

Isso, através do titulo de top drag Piauí ganhei uma vaga nesse concurso e foi maravilhoso, saímos de Teresina sem nenhum tipo de ganancia ou algo assim do tipo, mas sim querendo mostrar um belíssimo trabalho, por que o Piauí já tinha indo em outras edições e nunca conseguimos trazer o titulo. Estudamos e mostramos que o Piauí é um estado presente no transformismo do drag queen. Chegamos em São Paulo e é deslumbrante por que era um concurso nacional, cada estado tinha seu representante com pessoas super talentosas e acabei ganhado a competição que foi algo maravilhoso e um experiência maravilhosa por que a votação é feita por aclamação do publico e na hora todos começaram a gritar meu nome foi super gratificante pelo publico de São Paulo que é um publico bastante exigente pois é um dos maiores estado do Brasil. E o titulo foi fruto de um trabalho e perseverança junto com as pessoas que me apoiam e me ajudaram.

180: E como foi sua preparação para o concurso?

Primeiro foi psicológico. As pessoas que me cobraram por representar o Piauí. Havia quem me dava dicas, é uma pressão muito grande. E isso tudo mexe com a cabeça de qualquer pessoa, então meu preparo primeiro foi psicológico. Queria apresentar um trabalho e ser reconhecida por esse trabalho, e fui ver vídeos, várias performances das edições anteriores que levaram as pessoas ganharem o titulo, fui estudar música e foi muito trabalho para fazer bonito no Brazilian Drag.

180: E a ideia de comer uma banana na performance?

Foi no café da manha no dia do concurso, e a Lilika Network falou: Venha cá, tu podia pegar uma banana do café e levar pro show, foi na época do #SomosTodosMacacos, ai falei nossa legal. O povo pirou na hora, ficaram loucos.

180: Eu estava assistindo seus vídeos e sempre percebo que você usa sua flexibilidade nas performances, isso é uma estratégia ou algo novo para usar como marketing para Chandelly?

Vivemos no século em que tudo já foi feito e passamos por uma recriação. A questão da flexibilidade é por que sou bailarino profissional, então nada melhor que juntar minhas características e colocar na performance como um jogo de marketing de fato. E as pessoas gostam e pedem muito nos shows, se eu não usar a flexibilidade não é a Chandelly, eles já tem essa visão e é bem legal.

180: Qual é a inspiração da Chandelly Kidman?

A minha inspiração vem da diva Beyoncé, sou muito fã e acompanho a carreira. Ela tem algo feroz dentro dela e tem uma presença de palco muito forte que atravessa para o público e quero ser assim. Ela transmite uma leveza, calma e segurança no que faz. Mas tem muitas outras também tem que me inspiram como a Britney Spears amo muito, tem a Lady Gaga, Katy Perry, Cher. Na verdade eu busco muita inspiração nas divas internacionais, gosto muito do material nacional, pois acredito na qualidade do nosso trabalho, mas pro tipo de trabalho que faço e que quero fazer eu me aproximo mais das artistas internacionais.

180: Como você já trabalha nesse ramo há um bom tempo, foi para São Paulo representar o Piauí no Brazilian Drag, venceu e é umas principais drags de Teresina, o que é a Chandelly Kidman tem para contribuir para o Piauí?

Uau! O que tenho para contribuir para o Piauí? Assim, minha contribuir para é mais no lado artístico, mostrar meu trabalho e somar com o quadro da cultura do nosso estado. Levar a qualidade do nosso trabalho para o mundo a fora. Mas para isso precisamos quebrar alguns tabus por que tem pessoas que confundem esse mundo de travestis com o de gays afeminados que saem para boate à noite. Não! Estamos aqui para mostra serviço e mostra que temos capacidade para levar o nome do Piauí para outros estados e realmente colocar a cara no sol e mostrar que somos talentosos e podemos vencer qualquer coisa.

Fotografos: Victor Gabriel e Ricardo Caetano

Fonte: None

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