ARTIGO -

“A Grande Família” (ou a vida imita a arte)

Em "A Grande Família" tudo é possível. Trata-se de seriado da Rede Globo levado ao ar toda semana na noite de quinta-feira após a novela das 9. Os personagens já são por demais conhecidos e muito engraçados, a começar pelo Agostinho, genro-problema e que está sempre tentando dar um golpe em qualquer pessoa que passa diante dele, inclusive, e principalmente, em seu próprio sogro, o Lineu.

"A Grande Família" é uma espécie de metáfora da vida brasileira em que existem pessoas de todos os tipos, com características variadas e geralmente conflitantes. Mas ninguém, absolutamente ninguém, nunca passa em branco. O conceito do seriado poderia muito bem ser traduzido para a política e daria episódios igualmente engraçados.

Num deles, Lineu seria eleito prefeito ou governador – quem sabe até mesmo presidente da República. Sua mulher, Nenê, seria primeira-dama e também eleita para mandato eletivo - vereadora ou deputada; e nesta condição seria convocada para cargo público da maior importância no 1º escalão, abrindo espaço para a convocação do seu suplente.

Agostinho, que no seriado da Globo já tentou ingressar na política, mas foi barrado por eleitores de bom senso, também poderia receber apoio do sogro para eleger-se em mandato eletivo, mas caso não fosse possível poderia ser o titular da Fazenda Pública, responsável pela gestão do dinheiro do executivo. Não sobraria para ninguém. Não sobraria nada mesmo.

Claro que se poderia pensar em alguém melhor, mas neste caso não nos ocorre nenhuma lembrança. "Tuco", o filho de Lineu e Nenê, poderia ser o chefe do gabinete do prefeito ou governador e neste caso em nada ficaria a dever a muitos casos da vida real em que a vida imita a arte e vice-versa. O cara não consegue se entender com mulher nenhuma e se recusa em crescer e desgrudar da barra da saia de mamãe.

"Bebel", a filha e eterna insatisfeita, poderia ser silenciada com um presentinho de mandato eletivo ou então com DAS generoso em que não precisaria comparecer ao trabalho - receberia em casa cuidando do seu filho, o "Florzinho", e ainda ajudaria nas despesas do marido, que não tem um pingo de organização financeira (talvez a política para ele, da forma como é praticada em alguns rincões do Brasil, seja mesmo o melhor caminho).

"Beiçola", com seus pastéis de vento, poderia ser contratado como marmiteiro oficial e então venderia suas quentinhas para o poder público que as repassaria aos servidores que ficam fazendo hora extra ou que não querem ir em casa almoçar; neste caso, teriam desconto dos valores do alimento no contracheque ao final do mês. O alimento também poderia ser vendido para penitenciárias onde detentos costumam comer qualquer coisa – e nem adianta fazer rebelião porque não se resolve coisa alguma desse jeito neste país da ficção.

"Mendonça", o amigo-conquistador, seria imediatamente eleito para a Câmara Federal e deixaria sua mulher na Assembleia Legislativa - com ele esse negócio de Câmara de Vereadores não funciona. "Paulão da Regulagem", que tem uma vocação enorme para o inusitado, poderia tranquilamente ser indicado para a Secretaria de Educação, onde, por conta de sua incapacidade em concatenar raciocínio, contrataria uma organização não governamental a peso de ouro para treinar meninos pobres que como ele não tiveram chance de ingressar na universidade e fazer cursinhos que varam a noite em prédio público condenado pelo Corpo de Bombeiros e que a qualquer momento ameaça desabar sobre as cabeças dos seus ocupantes.

Claro que esse tipo de situação só seria possível na ficção. Ou será que alguém teria coragem de colocar um enredo assim tão absurdo em prática? Seria o cúmulo do nepotismo, praticado da forma mais escancarada possível, inclusive com respaldo popular, porque a população estaria aliviada da fome e muito possivelmente da miséria absoluta através de programas de inclusão que mais parecem com as práticas antigas de coronéis da política sertaneja, mas que vêm dando certo, neste mundo da imaginação autoral, para os que se apropriam da política como se fosse um negócio de família.

Fonte: None

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